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Neste blog por vezes escreve-se segundo a nova ortografia, outras vezes nem por isso.


segunda-feira, 25 de maio de 2015

JONAS E O DESTINO






"E ele lhes disse: Levantai-me, e lançai-me ao mar, e o mar se vos aquietará; porque eu sei que por minha causa vos sobreveio esta grande tempestade.
(…)
E levantaram a Jonas, e o lançaram ao mar, e cessou o mar da sua fúria."
In Livro de Jonas
 

 
 
 
Não me recordo em que minuto foi. Nem sei se foi antes ou depois do quarto golo do Benfica. Sei que foi depois do golo “barbaramente” anulado. Jonas ficou no meio-campo, puxou as meias para baixo e ajeitou as caneleiras. A seguir massajou as pernas e fez um esgar de dor. Olhou para o céu e continuou a sua luta contra o destino.

Com ajuda dos seus dez colegas em campo, mais os sessenta mil na bancada, e provavelmente os outros milhões que acompanhavam na televisão ou ouviam na rádio, tentou vencer o mais intransponível adversário, o tempo. E correu, muito. Como se não tivesse dor, como se fosse possível.

Jonas não tem o ar atlético e artificial do menino Ronaldo, mas nunca lhe faltou velocidade para chegar primeiro que os defesas e marcar. Não tem também o virtuosismo gingão do génio Messi, contudo foram dele as jogadas mais talentosas que vimos no nosso campeonato. Quando remata, inclina-se para trás, ao contrário do que mandam as regras. Ao andar, diríamos estar perante um dançarino de tango, caso não fosse brasileiro. Ao correr, aparenta não saber para onde, mas surge nos lugares mais improváveis no campo, a cortar, a iniciar jogadas, a assistir e, claro, a marcar. Nada, no brasileiro, nos leva a pensar que estamos perante um grande jogador.

Não ganhou a bola de prata, não o deixaram. Como escreveram hoje, seria apenas a cereja. O melhor, o principal, foi o longo caminho percorrido em apenas dez meses, de dispensado a figura do Benfica, a figura do campeonato, a figura da época. O destino foi vencido.
 
 

 JL

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