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Neste blog por vezes escreve-se segundo a nova ortografia, outras vezes nem por isso.


quarta-feira, 14 de setembro de 2016

À VOLTA DE UMA NOITE EUROPEIA

Para lá da injustiça e da infelicidade de uma equipa brava mas inevitavelmente imatura, para além, muito além das declarações parvas de um moleque ingrato que se houver vergonha, amor-próprio e respeito pela nossa história, não mais vestirá a mítica camisola do Benfica, fica-me na retina as bancadas meio-vestidas (ou meio-despidas?) na Luz, um sector inteiro fechado, a Catedral longe muito longe das suas históricas noites de gala.

É isto o benfiquismo dos dias que correm: sócios e adeptos que exigem este mundo e o outro mas faltam quando a ausência deveria ser proibida.

Gente que desconhece ou não quer sequer saber que “noite europeia” era sinónimo de enchente, da presença de uma multidão vibrante, frenética, quase irracional na paixão pelo clube, construindo assim as mais belas páginas da sua história.

Foi assim, dizem-me, nos anos 60, foi assim, pude depois confirmar nos anos 70 e 80.

Desenganem-se, porém, os que pensam que o mito das noites europeias se construiu apenas com vitórias como os 6-0 em 1962 ao Nuremberga, os 5-1 em 1972 ao Feyenoord ou a noite no final dos anos 80 em que Vata enlouqueceu 120.000.

A história europeia do Benfica fez-se também de derrotas e eliminações absolutamente míticas, algumas delas dramáticas até: a eliminação por moeda ao ar perante o Celtic, as célebres eliminatórias com o Ajax, a noite em que Ian Rush destruiu a Luz, ou até uma vitória amarga perante um cinzento Carl Zeiss Jena que nos custou a presença na final da saudosa Taça das Taças.

Outros tempos: antes de tudo exigir a quem comanda o clube, os sócios e adeptos sabiam que aquelas noites de gala eram a essência da história e do mito do Benfica.

Verdadeiramente era naquelas noites de romaria em direcção à Luz que o Benfica se cumpria; o Inferno da Luz não era uma invenção folclórica de uma comunicação social alucinada ou subserviente: era apenas o Benfica.

Hoje, tudo é diferente: o benfiquismo exarcebado aparece ciclicamente no estádio quando faltam 5 ou 6 jornadas para o fim e cheira a festa.

A Champions é para ver de traseiro sentado no sofá no remanso do lar, pagando sem protestar a mensalidade à Sportv; se aparecer um dos tubarões do futebol europeu, então sim, enche o estádio e faz-se a festa, gritando à Europa do futebol o que é o Benfica e o inferno da Luz.

Sem querer dar lições de benfiquismo a quem quer que seja, seria bom que muitos dos sócios repensassem o Benfica que pretendem: se apenas o Benfiquinha para consumo interno, vítima da constante guerrilha invejosa e ressabiada de adversários menores, ou o verdadeiro Benfica, disposto a honrar uma gloriosa caminhada europeia iniciada num mágico fim de tarde no Jamor.

Enquanto não nos decidimos sobre o que queremos para o nosso clube, fica claro para mim como certamente para os outros 42.125 que lá estiveram ontem, que vamos à Luz para e pelo  Benfica; que o jogo seja da fase de grupos ou das meias-finais, que o adversário se chame Ludogorets, Linfield, Besiktas, Real Madrid ou Bayern de Munique é apenas um pequeno detalhe.    



RC


6 comentários:

  1. Discordo do que indicas. O estádio estava com aquela moldura devido a 1) preço dos bilhetes e 2) inexistência de bilhetes para a bancada família.
    Por isso, parem lá de colocar a culpa dos estádios meio cheio nos sócios pois são as instituições que devem cativar as audiências e não as audiências a cativar as instituições.

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    1. E ainda digo mais umas coisas.
      Percorrer 500km, pagar portagens, gasolina, refeições e levar na bagagem um pessimismo terrível em virtude da falta de avançados, centrais e jogadores titulares.... tudo isto limita e muito a deslocação a Lisboa.
      Sim a Lisboa porque o estádio da Luz enche sempre com a sua maioria de pessoas que não vivem em Lisboa.

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  2. Caro RC,

    Li com atenção o texto e será bom, para muitos que aqui vêm, reflectir sobre este desabafo.

    No entanto, quero referir o seguinte:

    - Com o Dortmund perdemos 5-0 lá depois de ganharmos 2-1 na Luz num festival de golos perdidos. Lá, jogou o Rita à baliza, numa noite negra!

    - há várias razões para que a Luz não encha como antigamente - e nessa altura a lotação do estádio era superior, inclusive, desde que construíram a 1ª parte do 3ª anel, assim aconteceu. Uma significativa parte dos adeptos que nestas noites e também noutros jogos vêm à Luz não são de Lisboa ou dos arredores, exactamente como acontecia outrora. Muitos são de muito longe, e antigamente, era vê-los em automóveis e automóveis percorrendo a estrada nacional nº1, com bandeiras e cachcóis de fora dos vidros das portas. Hoje, uma ida à Luz fica muito mais cara do que antigamente, não obstante os preços dos bilhetes serem, em proporção, semelhantes, ou até mais baixos. As acessibilidades são melhores mas os custos são mais elevados. Transporte, bilhete e refeições ficam, hoje, muito caros.
    Em tempos que já lá vão e em que eu podia, fisica e financeiramente, fui sempre ver os jogos europeus. Chegava a casa madrugada dentro, e às 7 de manhã estava presente no trabalho. Isso acontece com muitos daqueles que são de longe. Ida e volta, fazia 650km e 8 horas de caminho, no mínimo.
    É uma realidade que a TV tira espectadores, mas nos dias que correm, com uma crise ainda mais severa do que nos tempos de antigamente, é mais difícil encher a Luz. É um fenómeno que me entristece, mas que deverá ser bem analisado por todos nós. Alguma razão existe para haver um "comboio Benfica", por exemplo.
    No meu tempo, numa viatura vulgar iam cinco ou seis ocupantes mais o condutor. Hoje, infelizmente é diferente, só podem ir quatro no máximo, mais o condutor. Tempos saudosos que tornaram GRANDE, mesmo MUITO GRANDE o NOSSO SPORT LUSBOA E BENFICA!
    A população portuguesa não cresce e o país continua pobre. Só Istambul, por exemplo, tem mais habitantes que Portugal inteiro!
    Saudações Gloriosas.

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    1. Caríssimo Grão-Vasco,
      Antes de mais penitencio-me pelo inadmissível lapso: queria referir-me à memorável vitória de 6-0 sobre o Nuremberga e não, obviamente, ao jogo com o Dortmund. Agradeço a correcção e o rigor.
      Quanto ao resto, entendo os seus argumentos, concordo mas... apenas em parte, uma vez que a questão de fundo para mim é outra.
      Evidentemente que não posso nem devo criticar quem está a 100, 200 ou 300 kms e tem de ponderar muito bem cada deslocação à Luz: entre combustível, portagens, refeições e bilhete, a noite europeia pode custar largas dezenas de euros.
      A questão é, porém, outra: onde estão os milhares que entopem o Marquês nas noites de festa ? Onde estão os milhares que enchem a Praça do Municipio e a baixa de Lisboa quando a equipa vai à Câmara para a devida homenagem ? Onde está a onda benfiquista dos dias felizes ?
      Eu respondo-lhe: sentada no sofá à espera que venha o filet mignon, para então, independentemente dos preços ir a correr expressar o amor pelo Benfica em longas filas diante das bilheteiras da Luz.
      O argumento do preço dos bilhetes é, aliás, completamente falacioso para quem vive em Lisboa ou arredores; que diabo, preços para sócios a partir de € 13,50 é caro ???
      O que dizer então dos preços dos bilhetes para os inúmeros festivais de verão que vendem como pãezinhos quentes ?
      Pois, às vezes querer é poder ou então muita gente está à espera de mais umas valentes borlas como vergonhosamente aconteceu há uns anos por ocasião do Benfica-PSV e do Benfica-Braga para a Liga Europa.
      As pessoas desabituaram-se de ir ao futebol e pouco há a fazer. Culpa antiga também dos clubes que em situação de aperto financeiro venderam a alma ao diabo e à Olivedesportos.
      O resto são falácias e argumentos que não colhem. As instituições devem cativar as audiências com bons espectaculos, boas condições e preços razoáveis.
      Sinceramente não me parece que sob estes pontos de vista, algo tenha falhado ontem na Luz...

      Saudações Benfiquistas

      RC

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  3. PS - cachecóis e não cachcóis. As minhas desculpas pelo lapso involuntário.

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