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Neste blog por vezes escreve-se segundo a nova ortografia, outras vezes nem por isso.


quinta-feira, 17 de abril de 2014

NÃO HÁ PALAVRAS



Não há palavras para descrever que se passou ontem no estádio da Luz. Ontem? Até me custa escrever “ontem”. Aquilo que assistimos ao vivo, com som, cheiro, tacto, não foi ontem, hoje ou amanhã, foi eterno. Daqui a cinquenta anos, quando se falar de futebol, de clássicos, de grandes jogos, toda gente se vai lembrar o dia em que o Benfica com menos um jogador em campo, com a equipa cansada de tanto jogar, com jogadores nucleares na bancada, suplantou o FCPorto, coleccionador de títulos dos últimos anos. 

Não vamos encontrar palavras para contar aos mais novos quem era Pedro Proença, o diabo com nome de terra da beira interior, que sorria de dentes brilhantes enquanto expulsava o brasileiro Siqueira.  

Vamos procurar conjuntos de letras que elucidem, a quem não esteve lá, como era o olhar de resignação de quem de cachecol vermelho ao pescoço pensava que ia rever a mesma história de sempre. E como esse olhar se agigantou com o passar dos minutos, com o brio e com a luta de homens que nasceram, maior parte deles, a milhares de quilómetros de Lisboa, mas que se deixaram infectar de um vírus chamado mística.

Não teremos ali à mão, seja em que língua for, uma gramatica compatível com as lágrimas provocadas pelo mais improvável dos heróis. Podemos tentar a língua gestual, caracteres chineses, os mais avançados códigos existentes, que vai ser impossível explicar. Quem lá esteve guardará para si e para sempre o Benfica-FCPorto de 16 de Abril de 2014. 

No futebol os bons ainda ganham no final, como nas histórias que nos contavam na infância. Fosse assim a vida e eramos mais felizes.  

JL

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