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Neste blog por vezes escreve-se segundo a nova ortografia, outras vezes nem por isso.


terça-feira, 25 de novembro de 2014

A DESUMANIZAÇÃO

Titulo curioso sobre um clube que há menos de meia dúzia de meses colocou duzentas mil pessoas no Marquês, vinte ou trinta mil em Turim, encheu estádios por esse país fora e bate recordes de audiências televisivas. É portanto um titulo que concerteza peca por exagero. Todavia, meia dúzia de meses após a euforia da melhor época dos últimos cinquenta anos, o facto de serem sempre os mesmos trinta mil a habitarem as bancadas da Luz é sintomático que algo não está bem no reino do Glorioso. Que, não devemos esquecer, lidera o campeonato, venceu a Supertaça e mantém todas as possibilidades de sucesso nas restantes taças que disputa.

Provalvelmente esta indiferença é passageira, eventualmente resultante, como já se escreveu até à exaustão neste blogue, de uma péssima gestão das expectativas por parte dos responsáveis.

Talvez até não haja problema algum, nem escassez de entusiasmo inicial. Apesar de incomodativo, talvez resulte de uma visão tendenciosa de alguém excessivamente apaixonado pelo clube e que tem dificuldade em compreender os elevados níveis de indiferença de quem se diz benfiquista. Admito até que será um mal circunstancial e que a manutenção da liderança do campeonato e as eliminatórias ultrapassadas tragam à Luz os restantes 30 mil, amantes de festas e de vitórias.

Contudo, nos nossos pavilhões deteta-se algo mais grave. As cadeiras teimam, sempre, em ficar vazias, sejam dérbis, clássicos ou jogos europeus. Acredito que uma final do futsal ou Benfica-Porto em hóquei consiga o milagre. De resto, seja que jogo for, do voleibol ao andebol, do super vitorioso basquetebol à colorida gimnáguia, nada nem ninguém enche aqueles dois pavilhões.

Que tem feito a estrutura do clube para combater esta maleita? Não sei. Só sei que não tem resultado. Sei, porém, o que tem feito para agravar o fenómeno. Apenas algumas ideias que entroncam no mesmo diagnóstico: «a massa associativa não se sente bem no pavilhão». Não se sente em casa. É a mais pura das verdades.

É o autentico estado policial que se estende da porta de entrada até às bancadas. É Prosegur por todos os lados, há jogos que temos um segurança por cada cinco espectadores. Não estou a exagerar.

É o barulho ensurdecedor do speaker, a gritar a cada jogada e a cada paragem. São as palavras de ordem telecomandadas permanentemente da cabina. É a falta de espontaneidade necessária e desejável num evento desportivo, são os niveis do volume de som altíssimos. Que vontade tem um adepto de apoiar a equipa, se da cabina de som está montada uma autentica feira popular. Até as claques se calam.

Claques que, salvo raras excepções, andam de costas voltadas para as modalidades. Não sei as razões, nem os culpados. Sei que das poucas vezes que estão presentes, o seu número raramente ultrapassa, por exemplo, o número de elementos do numerosa e mitica claque do Nacional da Madeira. Será que um clube com a dimensão do Benfica não merece mais do que duas dezenas de bons rapazes a acompanhá-lo.

As horas dos jogos. Não há uma boa articulação dentro do universo SLB. Não poucas vezes temos de escolher entre o Seixal e a Luz, entre a TV e o pavilhão. Os horários são impostos pelas federações. Certo, mas que fez o Benfica para lutar contra isso.

Que politica está ser feita com as escolas das Freguesias, do Concelho e até do Distrito? Vemos grupos de estudantes a entrar em bando para ganharem gosto pelas modalidades?

Sei que os bilhetes são ridiculamente baixos, mas será que se os sócios receberem, de vez em quanto, uns convites para levantarem bilhetes, não se criava ou retomava alguns hábitos antigos?

Os tempos são outros, mas no domingo foi uma tristeza ver aquele pavilhão quase vazio num jogo tão importante para o nosso andebol. E a BTV, sendo um projecto estruturante, não pode servir de álibi para abalar as estruturas do mais humano clube de Portugal.

JL

5 comentários:

  1. Boa tarde Cosme.

    "alguém excessivamente apaixonado pelo clube e que tem dificuldade em compreender os elevados níveis de indiferença de quem se diz benfiquista."

    Sinto-me exactamente no mesmo local que tão bem caracterizas. Mas luto com temas mais amplos e que chegam a generalidade social/económica/política e social. Tudo parte do Benfica e tudo se expande.

    Estou a atravessar uma fase em que me apetece entrar em modo "stand-by". recusei um convite para ir ver o Benfica ao vivo no próximo domingo...

    Escreves sobre as amadoras eu sinto no geral. Um grupo de técnicos burocratas que gere uma grande empresa e que se esqueceu que essa mesma empresa tem mais clientes do que qualquer coisa que possa existir neste país.

    E diz-se... A empresa é dos clientes! Tanto que se diz por aí. E o vento tráz tanto pardal...

    Saudações Gloriosas.

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  2. No Volei e no Basquete o barulho do Speaker é insuportavel!

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  3. Quarta-feira, numa casa do Benfica da região centro, depois de mais uma brilhante eliminação da Liga dos Campeões, pedi para porem na Benfica tv para ver a equipa de andebol jogar contra o Madeira SAD.

    Por volta das 19h25 já estava um senhor muito preocupado, que estava quase a começar o Real Madrid!...
    Os últimos 6 minutos do nosso andebol não vi, porque a preocupação de benfiquistas, numa casa do Benfica, não era ver uma equipa do Benfica na Benfica tv, era ver o Real Madrid na Sportv.

    Tal como esta situação, aconteceu não conseguir ver o jogo europeu de basquetebol contra os belgas, porque numa casa do Benfica estavam mais interessados em ver o Sporting-Schalke.

    Pela amostra há casas do Benfica que não passam de normais snack-bar pintados de vermelho.


    Como é que vamos ter os pavilhões cheios, se nem para ver na tv os benfiquistas se mexem?

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  4. A falta de sentido associativo deve preocupar todos os que são benfiquistas de alma.

    Entre a forma empresarial que o Clube é gerido e que sendo por um lado criticável é compreensível, e a forma pouco pessoal com que essa mesma gestão é efectuada vejo um caminho muito pouco agradável a nível do associativismo.

    O equilíbrio que se devia encontrar mais do que estar longe de acontecer, parece-me que está longe de ser procurado.

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  5. Ps: Haja quem como eu se preocupa com este factor determinante e decisivo para o nosso futuro.
    Infelizmente só vejo aqui comentários de 3 pessoas sobre este assunto. Grave, muito grave...

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