Não foi por uma questão meramente
financeira que o Benfica decidiu não renovar o contrato com a Olivedesportos
para passar os seus jogos no seu canal. A Sport TV e os seus funcionários
tinham ( e ainda têm) permanentemente uma atitude para com o clube que roçava a
agressão. Comentários ofensivos e grotescos, repetições que nunca apareciam,
lances apagados dos resumos, linhas de fora-de-jogo muito pouco paralelas. De
tudo valia.
Perante uma crescente e
generalizada revolta dos associados, Luis Filipe Vieira, à beira de eleições, acaba
por ceder e romper com o amigo. Falta fazer as contas finais, mas estas terão
sempre de ter em conta os custos de se passar a ter um canal pago, ao contrário
da concorrência. São custos dificilmente mensuráveis, mas que têm um peso
enorme ao nível da divulgação do Clube a das suas actividades.
Ganhando a possibilidade de
transmitir os seus próprios jogos, o Benfica, para além receitas da subscrição,
tinha na mão a possibilidade de mostrar a sua verdade, pelo menos nos jogos em
casa. Já Joseph Goebbels, ministro da propaganda do regime nazi, era
peremptório: “Nós não falamos para dizer alguma coisa, mas para obter um certo
efeito”.
Neste campo, a Benfica a TV vive
uma profunda bipolaridade, que até seria muito positiva se não estivesse
instalada completamente ao contrário. Nos programas de estúdio, onde se discute
o clube, temos o pedroguerranismo elevado ao quadrado. Onde se poderia
saudavelmente colocar questões, analisar problemas, denunciar situações, com
elevação e sempre em prol do nosso clube, temos um Pedro Guerra em permanente
loas à Direcção e ao senhor presidente.
Nas transmissões diretas, nomeadamente no futebol, é como se
estivéssemos a assistir ao jogo num canal do adversário, A necessidade ou a “fuçanga”
de ser querer mostrar neutro é tanta, que quem sai prejudicado é sempre o Benfica.
Ontem, durante o Benfica- Naval…
perdão… Sporting e perante uma arbitragem mais do que manhosa, não se ouviu uma
palavra, um repúdio, um mero reparo. Tudo politicamente correto. Até os
jogadores do Naval ou do Sporting ou que era aquilo, recebiam elogios sobre grandes
jogadas ou bons passes e cortes.
Há um penalti por marcar que é
repetido apenas duas ou três vezes, de forma envergonhada. Antes do golo dos lagartos, há um lance duvidoso
na área. Penalti a favor do glorioso? Não sabemos, porque não houve uma única repetição.
E as duas agressões à cotovelada a jogadores nossos que nem falta mereceram? Quase
silencio. Tudo gerido com pinças pelos comentadores.
Em contraposição, de vinte em vinte minutos, tínhamos de levar com o
boneco do Vieira a tapar quase um quarto do ecrã, a anunciar mais uma campanha.
Assim, porque não são as respostas que movem o mundo, mas as perguntas, resta-nos
questionar: O Benfica ainda tem canal de televisão? Ao serviço do clube e dos
sócios? Ou é apenas mais um negócio e o que interessa são as receitas? O que
até seria legítimo e proveitoso, se não ficássemos sem um canal nosso.
Este seria um bom debate para se ter na “nossa” televisão. Houvesse
vontade e coragem.
JL