É usual dizer-se que as contas fazem-se no
final, pelo que chegou a hora: terminada a época 2011-2012, falemos um
pouco de quem esteve ao leme de algumas das nossas equipas: os treinadores.
O que se pretende é uma análise, naturalmente
subjectiva às responsabilidades, méritos e deméritos de quem durante uma época
inteira comandou os destinos de algumas das nossas equipas mais representativas
em termos de competição.
Globalmente foi uma boa época. Poderia ter sido
fantástica, poderia ter sido bem pior.
Foram dados passos importantes no retomar de uma certa
"normalidade" no desporto português; não nos iludamos, porém: o
sistema, o famigerado sistema aí está omnipresente e tentando perpetuar-se,
custe o que custar.
Pensemos, pois, no que fizemos bem e no que poderíamos
ter feito bem melhor: ,só assim, sendo melhores, muito melhores poderemos pôr
fim ao período mais negro e mais sujo do desporto português.
A "ordem de aparição" dos treinadores de que
falarei é puramente aleatória: os juízos de valor serão feitos no local
próprio.
Prof. José Jardim (Voleibol)
Para mim, é o caso mais desconcertante deste Benfica.
Benfiquista convicto, foi praticante de categoria e
como técnico será dos mais competentes a trabalhar em Portugal.
Uma vida inteira dedicada ao voleibol desde os
gloriosos tempos do histórico Liceu Gil Vicente.
Sério, profissional, rigoroso, trabalhador, dedicado.
E no entanto...
Pelo 3º ano consecutivo, o Benfica perde o campeonato
nos play-offs, o que convenhamos não será apenas coincidência nem fruto de um
regulamento que embora absurdo era de todos conhecido desde o inicio.
O que se passou para que consecutivamente em 3 anos,
mas sobretudo nos últimos 2, o Benfica perca o campeonato no único
momento em que está proibido de falhar, após uma época em que se passeou pelos
pavilhões esmagando adversários em série?
O que falhou? Porque não consegue o melhor plantel de
Portugal, liderado por aquele que será provavelmente o melhor treinador
português, lidar com a pressão competitiva de uma final ?
Depois de 3 falhanços consecutivos, o prof. José
Jardim aproxima-se perigosamente da zona em que não mais haverá lugar nem
tolerância para o fracasso.
Seria, para mim, uma enorme desilusão se José Jardim
fosse obrigado a deixar o seu clube de sempre, saindo pela porta pequena.
Prof. Jorge Rito (Andebol)
O andebol é para mim, um caso quase perdido, uma
modalidade em que aplicaria uma espécie de tolerância zero.
Em termos práticos: ou a vitória ou o fim do andebol
profissional no Benfica.
Nada disto, tem que ver, obviamente, com a figura, a
competência e o profissionalismo do Prof. Jorge que me parecem acima de toda a
suspeita.
Com a distância possível, creio que Jorge Rito terá
sido outra vitima de uma equipa(?) aburguesada, cheia de vícios, sem ambição
nem garra para lutar sempre pela vitória.
Olho para Jorge Rito e para os resultados do andebol e
percebo o quão fui injusto para o Prof. José António.
Há qualquer coisa naquele grupo de jogadores que não
funciona e que a continuar consumirá recursos, meios, treinadores, hipotecando
talvez, o futuro da modalidade no Benfica
Conseguirá Jorge Rito dar a volta a uma situação que
parece eternizar-se ?
É esse o grande desafio para a próxima época.
Carlos Lisboa (Basquetebol)
Um dos vencedores da época.
Uma vitória conseguida "in extremis", em
circunstâncias dramáticas, depois de desperdiçada a ocasião para resolver a
situação em casa, diante dos nossos.
Lisboa carregará sempre um estigma, um pesado fardo: o de ter sido o
melhor jogador português.
O público, o povo benfiquista tenderá sempre a
comparar o Lisboa-jogador com o Lisboa-treinador.
Injusto para ambos: Lisboa-jogador foi enorme,
único, irrepetível; Lisboa-treinador parece-me apenas razoável.
Uma grande virtude: ter acreditado até ao fim que o sonho era
possível.
Um sinal positivo: a aposta na formação e o facto de
ter chamado Goran que a conhece como ninguém, para adjunto.
Sinais inequívocos de que há uma visão global e um
projecto para a modalidade.
O facto de acumular o cargo de director-geral das
modalidades com o de treinador de basquetebol, parece-me um pouco a quadratura
do círculo: como será no dia em que as coisas não correrem bem ?
O director-geral demite o treinador ou este sai
incompatibilizado com o primeiro ?
Uma situação a rever para defesa de “ambos”...
Paulo Fernandes (Futsal)
Seja pela forma como André Lima saiu, seja pela sua origem,
não fui grande entusiasta da contratação de Paulo Fernandes.
Um campeonato 2010-2011 perdido de forma demasiado
óbvia numa final em que não ganhamos um único jogo, reforçou as minhas
convicções iniciais e as minhas inultrapassáveis embirrações pessoais.
Chegou a hora de dar a mão à palmatória: com a vitória
neste campeonato, Paulo Fernandes terá conquistado definitivamente o respeito e
admiração de toda a nação benfiquista.
Apreciei sobremaneira a forma emocionada e emocionante
como comemorou com os seus, com os nossos.
Rendido ao público da Luz, agradeceu o seu apoio,
tornando-se um dos nossos para sempre.
Ao longo da época, apreciei em Paulo Fernandes uma
qualidade que faz a diferença nos líderes: a forma intransigente como defendeu
o seu grupo, protegendo-o e blindando-o.
Um treinador assim, terá mais hipóteses de ter o grupo consigo, ficando
seguramente mais próximo do sucesso.
Na hora da vitória, Paulo Fernandes foi grande porque
humilde,rejeitando protagonismos fáceis: os louros da vitória foram para os
seus rapazes, ficando para ele a enorme e justa satisfação do dever cumprido e
da festa entre os seus.
Uma lição para alguns como adiante se verá.
Jorge Jesus (Futebol)
Digo-o sem ponta de satisfação: o grande derrotado da época.
Por mais que tente tapar o sol com a peneira ou que assegure que a Terra gira ao
contrário , Jesus tem de encarar a realidade: a época 2011-2012 foi um
monumental fracasso, na senda, aliás do que havia acontecido na época anterior.
Jorge Jesus é um caso paradigmático do desperdicio de
algum talento e muitas capacidades.
Jesus é inequivocamente um homem do futebol nos seus defeitos e nas suas virtudes.
Intuitivo e empirico, Jesus é um treinador moldado
numa certa escola da vida do futebol
português: a facilidade com que pontapeia a gramática a par da paixão genuína
pelo jogo são uma imagem de marca de Jesus, mas também de um certa corrente do
futebol da paróquia.
E no entanto, Jesus deita tudo a perder: arrogante e
insistentemente teimoso, fecha-se no autismo de quem se julga um visionário ou
uma espécie de Midas do futebol moderno que transforma em quilates de ouro puro
qualquer sul americano que desembarque na Luz.
Jesus parece
incapaz de aprender com os erros, repetindo-os ano após ano, numa lógica
irritante e absurda, desbaratando um capital de confiança e tolerância que nenhum treinador do Benfica sequer sonhou obter nos
últimos 20 anos.
Acabou, porém.
Assim Jesus o tenha percebido, para bem do futebol do Benfica.
Luis Sénica (Hóquei em Patins)
Pelo simbolismo de uma vitória que no inicio da época pareceria pouco menos que impossível, o Prof. Luis Sénica é um dos grandes triunfadores da época benfiquista.
Numa modalidade completamente minada pelo sistema, com um campeão crónico e consagrado por decreto, Luis Sénica provou o que pode a força, o querer e ambição, mas também o trabalho e o profissionalismo.
Percebeu o triz que falhou o ano passado e tratou de ir buscar Sérgio Silva.
Aposta arriscada num atleta trintão, aparentemente desgastado por um carreira longa.
Puro engano: Sénica percebeu antes dos outros o que um atleta com a fibra e a experiência de Sérgio poderia trazer à equipa.
Vimos todos e por isso estamos gratos: pode ter sido o o principio do fim de uma longa noite que não dignificou o hóquei.
A vamos ver agora quais as soluções que Luis Sénica inventa para uma equipa que precisará de algum sangue novo, mas acredito que o mais difícil foi feito.
Apesar do jogo sujo e dos protestos de quem apenas sabe ganhar dessa forma.
RC