Dos tempos em que o jornalismo
desportivo era uma arte tecida por grandes senhores do futebol e da língua
portuguesa, um título ficou na história e tornou-se lenda, atravessando
gerações de leitores e de adeptos.
“A vingança da bola quadrada”
saído da imaginação e da genialidade do inesquecível Carlos Pinhão, a propósito
de uma vitória também ela lendária em que os Magriços desfizeram a tradicional
arrogância brasileira e Eusébio destronou definitivamente Pelé como rei do
Mundial de 1966.
De tudo isso me lembrei no sábado
à noite, enquanto observava a tranquila mas firme conferência de imprensa de
Rui Vitória após a vitória na Osgaláxia.
Seria fácil, sobretudo depois de
uma vitória como a de sábado, responder à letra ao ex-funcionário do Benfica
que de cabeça perdida revelou a sua pior face: a falta de nível e de classe, o
mau perder, a boçalidade própria dos fracos de espirito.
Rui Vitória escolheu outro
caminho e assim honrou-se, honrando-nos, respondendo à Benfica: com nível e
inteligência, educação e humildade mas sem subserviências perante os dislates
do colega de profissão.
Também eu sou de opinião que
aconteça o que acontecer, a época está ganha.
Vitima de uma campanha sem
precedentes na história recente do futebol português, Vitória a tudo e todos
resistiu: a uma imprensa maldosa, às criticas cobardes do seu antecessor, à
desconfiança com que largos sectores da massa associativa o iam encarando.
Rui Vitória nunca se escondeu:
pelo contrário, continuou a acreditar no seu trabalho e na valia do seu grupo
de trabalho.
É hoje um prazer imenso, um orgulho enorme termos um treinador que não nega a Lindelof e a Gonçalo
Guedes, a Renato Sanches e a Nélson Semedo os sonhos que cobardemente foram roubados a Bernardo Silva,
João Cancelo, Ivan Cavaleiro e outros que tiveram a desdita de se cruzarem com
o mestra da táctica e da arrogância.
A alta e arriscada aposta de
Vieira está ganha, aconteça o que acontecer e ainda que o Benfica acabe por
nada ganhar.
O Benfica tem neste momento um treinador
de corpo inteiro, que não necessita de andar aos empurrões aos adjuntos ou a figuras
históricas do clube para afirmar a autoridade; que não se esconde nem se
acobarda perante as dificuldades e os grandes da Champions; que faz a diferença
com um discurso correcto, educado, humilde mas convicto, evitando com inteligência
e sensatez, polémicas de chinela que tanto jeito dariam a alguns.
Este é o meu tributo a Rui
Vitória, um profissional mas também e genuinamente um dos nossos.
E é por tudo isto que me lembrei
do título de mestre Pinhão:desta vez e com a devida vénia, "A vingança do Professor de Ginástica”
RC