Quem tem entre 45 e 50 anos recorda
bem o martírio que significava para os então jogadores do Porto atravessar a
Ponte D. Luís.
Dizia-se que era aí que o Porto, por
melhores equipas que tivesse, começava a perder os jogos, sempre que se
deslocava a Lisboa e sobretudo ao Estádio da Luz.
Atravessar a ponte era o inicio da deslocação à Luz e consubstanciava todos os medos e fobias próprios de um clube
pequeno e provinciano.
Curiosamente, passados todos
estes anos, a “síndrome da ponte” parece ter atingido o Benfica e não há meio
de nos vermos livres dela.
Encerrada a era do apito dourado
e dos esquemas mafiosos que durante décadas lhe proporcionaram o domínio do
futebol, o Porto não passa de um clube moribundo bem à imagem do seu presidente
que finge não se aperceber que não passa de um Salazar cuja cadeira se partirá
mais tarde ou mais cedo.
Entretanto, o Benfica avançou
rumo ao futuro, reconquistando o seu verdadeiro lugar na hierarquia do futebol
português.
Temos hoje uma estrutura
profissional sem comparação em Portugal, melhores jogadores e melhor treinador.
Pois bem, o bloqueio mental de
jogar agora no Dragão como antes nas Antas mantém-se.
Com Rui Vitória agora como com
Jesus (e de que maneira!) anteriormente, só para mencionar os últimos
treinadores campeões pelo Benfica.
Vejamos o panorama até às 18H de
ontem: pese embora uma onda inusitada de lesões, temos uma equipa mais sólida,
melhores jogadores, melhor treinador e uma tranquilidade assegurada por 5(!)
pontos de avanço sobre o Porto. Sabemos todos que, aconteça o que acontecer,
sairemos do Porto em 1º lugar.
A diferença está apenas em saber
se aniquilamos o moribundo o se o ressuscitamos.
Pois bem, uma vez mais vemos um
Benfica entre o encolhido e o envergonhado que quase se deixa encurralar por um
Porto que mesmo jogando no limite, é apenas aquilo.
O Benfica à semelhança de outros
Benficas de tantos anos no passado, parece uma equipa algo atarantada: não ousa,
não consegue sair a jogar, não consegue seguer controlar o jogo deixando-se
quase dominar por uma equipa banal que parece apenas acreditar mais e ser mais
rápida.
E é isto: passados todos estes
anos e terminada definitivamente
uma era, este estranho bloqueio mental mantém-se: o Benfica, este Benfica vai à
Allianz Arena e encara o todo-poderoso Bayern nos olhos para depois se encolher
perante um qualquer Porto.
O mesmo Benfica que vai a S. Petersburgo
meter no bolso a arrogância de Vilas Boas, aflige-se e ataranta-se perante a
equipa do rabiscador Nuno Espirito Santo.
Saíram jogadores importantes,
faltam jogadores fundamentais?
Tudo verdade mas não creio que
com eles as coisas mudassem muito como, de resto, quase sempre aconteceu no
passado recente.
Vai sendo tempo do Benfica se
libertar deste bloqueio mental, desta espécie de síndrome que mais parece uma
sina ou maldição.
A ponte, o raio da ponte é apenas
uma passagem para a outra margem e nas Antas, no Dragão ou em qualquer estádio
do País, a norte ou a sul há algo que não muda: somos Benfica.
Podemos, evidentemente, perder ou
fazer um jogo menos conseguido mas ao entrarmos tolhidos pelo receio, pelo peso
da história ou por qualquer outro motivo, estaremos sempre muito mais longe de
vencer.
RC