"E ele lhes disse: Levantai-me, e lançai-me
ao mar, e o mar se vos aquietará; porque eu sei que por minha causa vos
sobreveio esta grande tempestade.
(…)
E levantaram a Jonas, e o lançaram ao mar, e
cessou o mar da sua fúria."
In Livro de
Jonas
Não
me recordo em que minuto foi. Nem sei se foi antes ou depois do quarto golo do Benfica.
Sei que foi depois do golo “barbaramente” anulado. Jonas ficou no meio-campo,
puxou as meias para baixo e ajeitou as caneleiras. A seguir massajou as pernas
e fez um esgar de dor. Olhou para o céu e continuou a sua luta contra o
destino.
Com
ajuda dos seus dez colegas em campo, mais os sessenta mil na bancada, e provavelmente
os outros milhões que acompanhavam na televisão ou ouviam na rádio, tentou
vencer o mais intransponível adversário, o tempo. E correu, muito. Como se não
tivesse dor, como se fosse possível.
Jonas
não tem o ar atlético e artificial do menino Ronaldo, mas nunca lhe faltou velocidade
para chegar primeiro que os defesas e marcar. Não tem também o virtuosismo gingão
do génio Messi, contudo foram dele as jogadas mais talentosas que vimos no
nosso campeonato. Quando remata, inclina-se para trás, ao contrário do que
mandam as regras. Ao andar, diríamos estar perante um dançarino de tango, caso
não fosse brasileiro. Ao correr, aparenta não saber para onde, mas surge nos
lugares mais improváveis no campo, a cortar, a iniciar jogadas, a assistir e,
claro, a marcar. Nada, no brasileiro, nos leva a pensar que estamos
perante um grande jogador.
Não
ganhou a bola de prata, não o deixaram. Como escreveram hoje, seria apenas a
cereja. O melhor, o principal, foi o longo caminho percorrido em apenas dez
meses, de dispensado a figura do Benfica, a figura do campeonato, a figura da época.
O destino foi vencido.
JL