Já passaram algumas horas, quase um dia completo,
e a única coisa que temos sobre o assunto é um comunicado da SLB,
SAD., exíguo em palavras, divulgado perto da meia – noite, quando
já quase todo o país dormia. Pode não querer dizer nada, mas…
A venda de Bernardo Silva por quinze milhões não
é um bom negócio. Como o do André Gomes não o foi, como não foi
a venda do Ronaldo pelo Sporting, ainda em tenra idade. Foi talvez, e
com alguma generosidade, o negócio possível.
O que determina se um negócio é benéfico é o
cálculo entre valor atual e o valor potencial, no futuro. Aqui
entra, obviamente, alguma carga de incerteza. Mas uma coisa é certa,
não sei se daqui a dois ou três anos Bernardo Silva vale muito mais
do que 15 milhões, contudo, tenho a certeza, salvo alguma lesão
grave, que no futuro próximo, o jogador não vai valer menos que os
15 milhões.
Assim, a nível financeiro, a venda só tem alguma
vantagem para o clube à luz de uma eventual asfixia financeira. Só
largamos ativos destes, cujo valor vai manter-se por um tempo
significativo quando precisamos de liquidez com alguma urgência. É
dos livros.
Se for esse o caso, há uma distância enorme
entre o Benfica precisar de dinheiro e não querer ver isso
escarrapachado na praça pública e Domingos Soares de Oliveira e o
Presidente passarem o tempo a garantirem que não precisamos de
vender jogadores, que a situação do clube é invejável, que o
passivo não interessa. A primeira chama-se dourar a pilula, a
segunda chama-se mentir.
Acreditando que não é isto que se passa e que a
venda do Bernardo foi um ato de gestão normal, sem pressão alguma
de tesouraria, ficamos sem perceber o que levou o Benfica a
desfazer-se de um ativo que não vai desvalorizar-se tão cedo. E não
me venham falar da rigidez tática do treinador atual e que o
bernardo não tem lugar do Benfica pela forma como a equipa joga.
Isso pode justificar um empréstimo, nunca uma venda.
Recordo que no ano passado, depois de umas
declarações de Jorge Jesus, Bernardo Silva escreveu na sua página
de Facebook: "Nasceremos mais 9 vezes se for preciso, ninguém
nos rouba o sonho de uma vida". Jorge Jesus até tinha
alguma razão no que queria dizer, mas, para variar, trocou-se todo e
saiu disparate. O jovem jogador devia ter estado calado, não esteve.
Azar, o Jorge não é Charlie. Como tenho a sensação que não vai
ser Charlie com o promissor Raphael Guzzo, que disse a propósito da
compra do alemão Mukhtar: "Porquê apostar em estrangeiros se
os portugueses que temos cá também são bons."
No meio disto tudo, temos um Luis Filipe Vieira
que fala em meis palavras: “O jogador vai voltar”, “tem para lá
umas cláusulas”, finalizando sempre com o clássico: “sabem
lá como encontrámos isto”. Contudo, apesar destas condicionantes
todas, gostava que explicasse, de forma clara, como vende a maior
promessa que alguma vez saiu do Seixal por uns míseros quinze
milhões e como ao mesmo tempo vai querer uma equipa baseada na
formação, sem se atrapalhar e sem voltar a falar da posição
financeiramente invejável do Benfica. É pedir muito?
JL