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Neste blog por vezes escreve-se segundo a nova ortografia, outras vezes nem por isso.


quarta-feira, 21 de agosto de 2013

O INFERNO DA LUZ?




É dramático, mas inquestionável: o Benfica desabituou-se de ganhar.
A simples perspectiva da vitória tornou-se um fardo ou mais que isso, um verdadeiro martírio.
Anos a fio arredado das grandes decisões, de títulos, da glória trazem destas coisas: uma espécie de vertigem perante o êxito, por mais próximo que esteja, por mais óbvio que pareça.
É o Benfica um gigante adormecido, como alguns dizem ?
Pior que isso, muito pior: é um monstro entorpecido, que tem medo da própria grandeza e que se assusta com a própria sombra.
Por isso, cada vez que tem que ganhar, treme de pavor perante a simples perspectiva de sucesso, enredando-se nos seus fantasmas e nos seus medos.
E quase sempre perde. Obviamente.
Recuemos 3 meses e meio no tempo, cento e pouco dias, nada na vida de um  homem, muito menos na vida de um clube gloriosamente centenário.
A 20 dias do final da época, temos o mundo aos pés: finalistas europeus 20 anos depois, a 2 vitórias da vitória no campeonato (jogando duas vezes em casa), finalistas da Taça de Portugal.
O benfiquismo está empolgado como, arrisco a dizer, nunca nos últimos  23 anos, desde que a mão de um Deus chamado Vata incendiou a Luz e nos levou até Viena.
Nem sempre convencendo, a equipa faz, no entanto, o que lhe compete e vai ultrapassando adversários.
O Porto está completamente KO: não há crença ou Benquerença que lhes valha.
A derrota na final da Taça da Liga é apenas a ferida mais recente: o Pinto já não pia e os lacaios remeteram-se à insignificância que nunca deixarão de ter.
Tudo parece mais perto que nunca: o campeonato, a glória, o regresso a um passado que todos ansiamos. E pelo qual desesperamos.
E de repente tudo desaba: em 20 dias perdemos tudo, até a dignidade que o nosso passado nos impõe.
Quem falhou, o que falhou, como foi possível tudo falhar e tudo perder num ápice, são as perguntas que desde então nos atormentam: o suplício parece não ter fim, como este inicio de época demonstra.
Não me parece, contudo, que a solução esteja num simples virar de esquina e de página, trocando Jesus e/ou Vieira por novos protagonistas, num filme visto vezes demais nos últimos 20 anos.
É um facto que o Benfica parece um manicómio em auto-gestão, mas talvez tenha chegado a altura de todos pararmos para reflectir.
E são todos mesmo, porque não há inocentes : sejam os que falam demais, os que calam sempre que deviam falar mas que, ao invés, falam quando se deveriam manter recatados, mas também os que fazem da gritaria o único argumento.
A descaracterização do Benfica começou há muito e neste processo há muitos culpados e poucos inocentes.
A verdadeira dimensão da questão e do limbo em que caímos, torna-se óbvia quando ouvimos, lemos e vemos os rostos da chamada oposição: é nisto (também) que o Benfica que se tornou.
O Estádio da Luz está cheio de yes man, de boys tecnocratas para quem é igual trabalhar no Benfica, na Nestlé; de vieiristas de ocasião: tudo verdade.
Para lá disso, porém o que nos resta ?
Rangel ? Antunes ? Veiga ? Tavares?
Movimentos de oposição cuja cola de cuspo é o ódio a Vieira ?

E é disto que se faz o Benfica dos nossos dias com o drama e a urgência de termos que ganhar o próximo jogo.
Não por Vieira, não por Jesus: apenas pelo Benfica.
É tão somente disto que se trata.

RC

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