No dealbar deste século, quando Luís
Filipe Vieira toma a rédea do futebol do Benfica, foi com estrondo que se ouviu
da sua boca a célebre frase sobre a importância de controlar os mecanismos de
decisão do nosso futebol. Na sua ainda muito descontrolada inaptidão
comunicacional, apenas não conseguiu guardar para si, ou para o seu restrito
grupo de assessores, uma verdade indesmentível sobre o caminho mais curto para
a vitória.
Conhecedor da estrutura que
sustenta as fundações do sucesso aqui no burgo, graças a anos de convivência com
o poder instituído enquanto presidente do Alverca, Vieira sabia que os triunfos
tinham mais a ver com o calor da noite do que com o frio dos dias.
Porque falou demais ou porque não
soube capitalizar o aprendiz de feiticeiro com quem fez dupla no campeonato ganho
pelo Trapa, a estratégia patinou e assistimos a quase mais uma década de frustrações.
Todavia, a grandeza
do clube faz com se auto-alimente, potenciando-se a si próprio e mesmo afastado
dos meandros que realmente decidem, um Benfica estável consegue rivalizar com
um poderoso Porto, apenas perdendo quando a decisão depende de factores que vão
para além do puro fenómeno desportivo.
Sentindo-se
completamente fora do comboio da frente, pior ainda, vendo o seu lugar ocupado por
um passageiro novo, o Sporting de Braga, o Sporting de Lisboa joga o seu futuro
numas eleições concorridíssimas, ganhando a lista que mais garantias dava de conseguir
marcar pontos no campeonato das influências.
Numa estratégia bicéfala,
onde Luís Duque se ocuparia da parte Burocrática e Paulo Pereira Cristóvão da parte
operacional, os homens do Lumiar deitam mãos à obra. Mas tudo corre mal, Luís
Duque falha o acordo com o Benfica e ouve Vieira aos gritos no túnel da Luz depois
de um dérbi “é para isto que tu querias controlar a arbitragem nacional!”. Este desacordo deita por terra as aspirações de Seara,
abrindo as portas da federação Fernando Gomes.
Do lado de Paulo
Pereira Cristóvão temos o episódio mais escabroso da história do futebol
nacional, ultrapassando mesmo as gravações do apito dourado. Ficou provado ter sido
ele o mandante de um deposito nocturno de um cheque de dois mil euros em beneficio
de José Cardinal, um árbitro assistente que uns dias mais
tarde ia estar num jogo dos quartos-de-final da taça entre o Marítimo e o Sporting.
É neste momento que
um novo poder no futebol começa a dar sinais de vida. Um vice-presidente de um
clube deposita um cheque na conta de um elemento de uma equipa de arbitragem
que vai estar no jogo seguinte da sua equipa. Ao pé disto a visita de Augusto Duarte
a casa de Pinto da Costa antes do Porto-Beira-mar é para meninos.
Quando cai o saco
de gatos que era a Direcção de Godinho Lopes, um caso extremo de incompetência,
Bruno Carvalho já tem a lição bem estudada. Aproveita quem lhe interessa em
lugares chave e percebe qual é o seu grande de handicap. Assim, como o Pinto da
Costa dos anos 80 dar-se a conhecer no terreno é fundamental. A sua presença no
banco e o cumprimento à equipa de arbitragem no final dos jogos é essencial.
Mas mais
importante é o folclore. Como ajuda de uma comunicação social pacóvia, sempre
que existe um resultado negativo intenta uma revolução. Pinto da costa e Pedroto
eram mestres. As ameaças directas - “ temos de conversar os dois” para o árbitro
no final do ultimo Benfica – Sporting – já nem espantam ninguém, nem
mediaticamente, nem disciplinarmente.
Com Pinto da Costa
já praticamente ausente do mundo dos vivos e com o Benfica distraído com os
seus fantasmas internos, o Sporting começa automaticamente a tirar proveito. Os
jogos são um passeio, golos em fora de jogo passam despercebidos, penaltis
oportunos aparecem, mesmo fora da área e até, vejam bem, fora do campo.
Mas a cereja em
cima do bolo é a Taça da Liga. Afastados justamente da Taça de Portugal (mais
um carnaval, num jogo em que o empate lhes apareceu do céu), o afastamento da
Taça da Liga era um revés enorme na estratégia delineada. Os bancos estão à espreita
e ficar com as fichas todas no campeonato era arriscado.
Em guerra aberta
com o FC Porto, que liderou um grupo de revoltosos a pedir eleições antecipadas,
a Liga aproveitou e numa decisão nunca vista propõe o afastamento de um clube só
porque o jogo se atrasou dois minutos e quarenta e cinco segundos. Nem nos países
mais corruptos da América Latina se tinha visto igual.
No fundo, o Sporting
tenta conseguir continuar numa competição sem desportivamente o ter conseguido.
Algo que para aqueles lados até não é inédito. Não sei porquê mas lembrei-me de
um campeonato de juniores, ganho na secretaria. Ganho sem nunca ter passado
pelo primeiro lugar. Ele há coisas maravilhosas no nosso futebol.
Tudo isto é
conseguido não só com gente em lugares chave na Liga, mas especialmente com gente
em lugares chave na comunicação social. Ninguém estranha a anulação de um
resultado conseguido em campo só porque se pensa que intensionalmente se atrasou
um jogo por cerca de três minutos. Nem uma voz. Como não se ouviu uma única voz
ao facto de Sporting ter conseguido vetar quatro árbitros para o jogo de
domingo e ter sido escolhido exactamente o mais desejado. O Jogo é demasiado importante
e cinco pontos já seriam demais.
Decididamente abre-se
um novo ciclo no nosso futebol e está passar-nos ao lado.
JL
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