É uma espécie de fatalidade: logo agora que começava a enternecer-me perante o look
entre o exótico e o “alien” de Raul Meireles, a forma abnegada e patriótica
como Pepe canta o hino entre duas patadas e três cabeçadas num qualquer
adversário, os perus internacionais do Patrício ou a imponente bigodaça de Hugo
Almeida, acontece isto.
Depois de vários dias de enormes expectativas, entusiasmo
e gritaria em barda, histeria luso-brasileira e reportagens de todos os ângulos
prováveis e imaginários sobre a roupa interior de Cristiano Ronaldo com o
inefável Nuno Luz a arfar até à exaustão, Portugal estreou-se no Mundial,
encaixando 4 batatas dos arrogantes e pouco disponíveis teutónicos.
Não é de admirar que a coisa não tenha começado bem, se
nos recordarmos que o palácio de Belém e uma audiência com Cavaco Silva foram a
última escala da selecção antes da partida para as Américas.
É certo que Cavaco estará também de pé atrás com a
selecção, pelo menos desde a sulipampa na Guarda, mas nem por isso será caso
para dizer que só se estragou uma casa.
Decididamente, não sejamos injustos para os mais altos e
nobres símbolos pátrios.
Por mim, garanto não rejubilar com as derrotas da selecção
ainda que me faça alguma confusão que gente que se borrifa para um país que
vendeu a electricidade a chineses, a gestão de aeroportos a franceses e a alma
ao diabo desde que isso de traduza em meia-dúzia de patacos, se sinta
genuinamente indignada se alguém insinua que Pepe é uma besta, Bruno Alves um
animal e Meireles uma versão futeboleira do homem de Neandertal.
Hoje será, pois, dia de raiva contra os alemães, esses
gajos que para além de nos massacrarem com austeridade, ainda tiveram a
desfaçatez de porem a Frau Merkel na tribuna de honra a troçar da acne do
Ronaldo, das digníssimas e visigóticas barbas do Meireles ou da cláusula de
rescisão do Patrício.
Peço apenas um pouco de comiseração: não me obriguem a
odiar a Alemanha, toda a Alemanha.
Afinal, as gajas são giras, a cerveja é fantástica e as
salsichas e o haxen, um petisco de se tirar o chapéu.
Se perante o desconsolo, a impotência, alguma raiva e uma
pontinha de frustração quiserem mesmo odiar um alemão, então escolham este.
E não se poupem.
RC
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