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Neste blog por vezes escreve-se segundo a nova ortografia, outras vezes nem por isso.


quinta-feira, 27 de novembro de 2014

PANCHO FORTES



Jesus é teimoso, Jesus é irrascível, Jesus é insuportavelmente incorreto nas derrotas. Jesus já foi visado diversas vezes neste blogue, injusta e justamente. Eu próprio, longe de imaginar o pecúlio da época passada, defendi a sua substituição após a tourada do Jamor contra o Vitoria de Guimarães. Mas Jesus criou-nos hábitos. De vitórias. De finais. De Títulos. Uma final europeia no final da época era um deles. 

Ontem foi um dia negro. Não só pela derrota, que a bom rigor era espectável, mas pelo enquadramento. Vitória do Mónaco, saída abrupta da competição, juniores goleados, depois de estarem a vencer por 1-0. Esses sim, deviam ser chamados a atenção. Com o primeiro lugar assegurado, o descalabro tem muito a ver com negligência. Indigno de quem veste o manto sagrado.

Quanto a Jesus, massacrado pelos abutres do costume, faz-me lembrar a lenda do mexicano Pancho Fortes. Do que me lembro, era mais ou menos assim:

Pancho era uma força da natureza. Alto e forte, de bigodaça farfalhuda, comia malaguetas ao pequeno-almoço, almoçava e jantava enormes tacos embebidos no molho mais picante que existisse por perto. 

Contudo, a sua fama não era derivada do seu enorme apetite gastronómico. O mexicano era famoso pelo seu invejado desempenho sexual. Fonte inesgotável de energia, o seu prestígio entre o sexo oposto ia de norte a sul do país, de Chihuahua a Mérida, transversal a idades e classes sociais, bonitas, feias, gordas, marrecas, todas falavam do homem insaciável que possuía dotes de autentico Deus do olimpo, apesar do hálito a guisado e de uma barrita de corona. 

A política tem o dom de transformar as lendas em tragédias e as fábulas em histórias de terror. Assim, num desses conselhos de ministros sem assuntos de grande monta, um assessor propõe uma medida radical de divulgação e promoção do México enquanto país de gente saudável, vigorosa e robusta: “temos de afastar a ideia de paraíso de traficantes, assassinos e mariachis”.  

Da ideia à ação foi um fósforo. Passado um mês estava-se a anunciar o grande acontecimento. Pancho Fortes, em pleno Estádio Azteca, na Cidade do México, iria despachar 100 criaturas do sexo feminino de várias idades, tamanhos e formas. Selecionadas por todas as regiões e até nas mais significativas comunidades emigrantes, num casting dos mais concorridos que à memória na América Central. As escolhidas sentiam-se umas felizardas. Quem ficou pelo caminho sentiu o insuportável peso da rejeição. Houve até notícia, não confirmada, de um suicídio. Um travesti que teria sido descoberto já nos testes médicos finais. 

O dia marcado foi brindado com um sol forte e quente de primavera. Pancho Fortes tinha-se preparado com uma alimentação mais regrada e com a abstinência possível. O estádio estava lotado. As 100 mil pessoas rejubilavam com a possibilidade de assistir in loco ao triunfo do homem mexicano. Se Pancho cumprisse o seu dever ficava provado que não havia no mundo raça mais viril. 

No relvado estavam dispostas, por filas, as cem camas com as cem mulheres. Estas eram apresentadas uma a uma pelo speaker e acenavam para a multidão. As pequenas claques, que entretanto se formavam conforme a preferência física ou regional, iam gritando palavras de ordem. 

Quando Pancho subiu ao relvado foi o delírio. “Pancho!Pancho!Pancho!”, Gritou-se em uníssono. O Presidente da República, com ar de triunfo e de orgulho, olhava de soslaio para o corpo diplomático convidado. Pediu-se silêncio e cantou-se o hino. O nosso herói estava visivelmente nervoso e ansioso.


Com uma salva de tiros de uma secção da Policia do Exercíto, Pancho deu início à função. Termina as primeiras dez com destreza e sem aparente esforço. O Povo rejubila.  “Pancho!Pancho!Pancho!”. Às vinte pede uma toalha para limpar o suor, mas não perde muito tempo. “Pancho!Pancho!Pancho!”. Às trinta bebe um pouco de água. Selada e entregue por um elemento do governo civil. “Pancho!Pancho!Pancho!”. Entre as quarenta e as sessenta ouvem-se olés das bancadas. É nesse momento que há uma tentativa de invasão do relvado por grupo de ativistas do greenpeace. A partir das setenta, a banda filarmonica zoogochense del valle de México começa a acompanhar a exibição com um medley de músicas populares. “Pancho!Pancho!Pancho!”. Às oitenta Pancho começa a cambalear. O público não desarma. “Pancho!Pancho!Pancho!”.
 
Porém, a número noventa e dois é demorada. O público levanta-se e grita “Força Pancho, falta pouco.” Pancho salta para cama da noventa e três. Passam cinco, seis, sete minutos. “Talvez tenha gostado desta” refere um espectador otimista. Passam dez minutos e nada. Passava-se algo. Ao fim de vinte minutos Pancho Fortes afasta-se cabisbaixo da cama. Entre as pernas jazia o membro descaído e mirrado. Houve um longo e pesado murmúrio pelas bancadas. De repente, a multidão levanta-se e ouve-se um clamor enraivecido: “Maricas!Maricas!Maricas!.”



JL

1 comentário:

  1. São assim as massas e os adeptos de futebol não fogem à regra. Mas os adeptos do Benfica conseguem ser ainda mais estúpidos! Pensam que por se chamar Jesus, faz milagres como o seu homónimo judeu.

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