Jesus é teimoso, Jesus é
irrascível, Jesus é insuportavelmente incorreto nas derrotas. Jesus já foi
visado diversas vezes neste blogue, injusta e justamente. Eu próprio, longe de
imaginar o pecúlio da época passada, defendi a sua substituição após a tourada
do Jamor contra o Vitoria de Guimarães. Mas Jesus criou-nos hábitos. De
vitórias. De finais. De Títulos. Uma final europeia no final da época era um
deles.
Ontem foi um dia negro. Não só
pela derrota, que a bom rigor era espectável, mas pelo enquadramento. Vitória
do Mónaco, saída abrupta da competição, juniores goleados, depois de estarem a
vencer por 1-0. Esses sim, deviam ser chamados a atenção. Com o primeiro lugar
assegurado, o descalabro tem muito a ver com negligência. Indigno de quem veste
o manto sagrado.
Quanto a Jesus, massacrado pelos
abutres do costume, faz-me lembrar a lenda do mexicano Pancho Fortes. Do que me
lembro, era mais ou menos assim:
Pancho era uma força da natureza.
Alto e forte, de bigodaça farfalhuda, comia malaguetas ao pequeno-almoço,
almoçava e jantava enormes tacos embebidos no molho mais picante que existisse
por perto.
Contudo, a sua fama não era
derivada do seu enorme apetite gastronómico. O mexicano era famoso pelo seu
invejado desempenho sexual. Fonte inesgotável de energia, o seu prestígio entre
o sexo oposto ia de norte a sul do país, de Chihuahua a Mérida, transversal a
idades e classes sociais, bonitas, feias, gordas, marrecas, todas falavam do
homem insaciável que possuía dotes de autentico Deus do olimpo, apesar do
hálito a guisado e de uma barrita de corona.
A política tem o dom de
transformar as lendas em tragédias e as fábulas em histórias de terror. Assim,
num desses conselhos de ministros sem assuntos de grande monta, um assessor
propõe uma medida radical de divulgação e promoção do México enquanto país de
gente saudável, vigorosa e robusta: “temos de afastar a ideia de paraíso de
traficantes, assassinos e mariachis”.
Da ideia à ação foi um fósforo.
Passado um mês estava-se a anunciar o grande acontecimento. Pancho Fortes, em
pleno Estádio Azteca, na Cidade do México, iria despachar 100 criaturas do sexo
feminino de várias idades, tamanhos e formas. Selecionadas por todas as regiões
e até nas mais significativas comunidades emigrantes, num casting dos mais
concorridos que à memória na América Central. As escolhidas sentiam-se umas
felizardas. Quem ficou pelo caminho sentiu o insuportável peso da rejeição.
Houve até notícia, não confirmada, de um suicídio. Um travesti que teria sido
descoberto já nos testes médicos finais.
O dia marcado foi brindado com um
sol forte e quente de primavera. Pancho Fortes tinha-se preparado com uma
alimentação mais regrada e com a abstinência possível. O estádio estava lotado.
As 100 mil pessoas rejubilavam com a possibilidade de assistir in loco ao
triunfo do homem mexicano. Se Pancho cumprisse o seu dever ficava provado que
não havia no mundo raça mais viril.
No relvado estavam dispostas, por
filas, as cem camas com as cem mulheres. Estas eram apresentadas uma a uma pelo
speaker e acenavam para a multidão. As pequenas claques, que entretanto se
formavam conforme a preferência física ou regional, iam gritando palavras de
ordem.
Quando Pancho subiu ao relvado
foi o delírio. “Pancho!Pancho!Pancho!”, Gritou-se em uníssono. O Presidente da
República, com ar de triunfo e de orgulho, olhava de soslaio para o corpo
diplomático convidado. Pediu-se silêncio e cantou-se o hino. O nosso herói
estava visivelmente nervoso e ansioso.
Com uma salva de tiros de uma secção
da Policia do Exercíto, Pancho deu início à função. Termina as primeiras dez
com destreza e sem aparente esforço. O Povo rejubila. “Pancho!Pancho!Pancho!”. Às vinte pede uma
toalha para limpar o suor, mas não perde muito tempo. “Pancho!Pancho!Pancho!”.
Às trinta bebe um pouco de água. Selada e entregue por um elemento do governo
civil. “Pancho!Pancho!Pancho!”. Entre as quarenta e as sessenta ouvem-se olés das
bancadas. É nesse momento que há uma tentativa de invasão do relvado por grupo
de ativistas do greenpeace. A partir das setenta, a banda filarmonica zoogochense del valle de México começa a acompanhar a exibição com um
medley de músicas populares. “Pancho!Pancho!Pancho!”. Às oitenta Pancho começa a cambalear. O público
não desarma. “Pancho!Pancho!Pancho!”.
Porém, a número noventa e dois é
demorada. O público levanta-se e grita “Força Pancho, falta pouco.” Pancho
salta para cama da noventa e três. Passam cinco, seis, sete minutos. “Talvez
tenha gostado desta” refere um espectador otimista. Passam dez minutos e nada.
Passava-se algo. Ao fim de vinte minutos Pancho Fortes afasta-se cabisbaixo da
cama. Entre as pernas jazia o membro descaído e mirrado. Houve um longo e
pesado murmúrio pelas bancadas. De repente, a multidão levanta-se e ouve-se um
clamor enraivecido: “Maricas!Maricas!Maricas!.”
JL
São assim as massas e os adeptos de futebol não fogem à regra. Mas os adeptos do Benfica conseguem ser ainda mais estúpidos! Pensam que por se chamar Jesus, faz milagres como o seu homónimo judeu.
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