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Neste blog por vezes escreve-se segundo a nova ortografia, outras vezes nem por isso.


domingo, 22 de setembro de 2013

FREUD NÃO EXPLICA




Devido à péssima pré-época que nos foi gentilmente oferecida, o Benfica necessitava do oxigénio das vitórias sobre o Anderlecht e Vitória de Guimarães. Conseguiu-o de forma justa. Eram jogos difíceis e confirmou-se. Se a equipa vai resolvendo os problemas tácticos com a riqueza de opções que Jesus tem agora ao dispor, o que eu gostava era que estas vitórias contribuíssem para afastar os problemas mentais que nos atacam desde o final da época passada. 

Aquele final de jogo, com um jogador a mais e a ganhar o jogo, ajuda-nos a compreender o final da época passada. Não é azar, não são bruxas, é simplesmente a atitude da equipa. O que a impede de tomar conta do jogo, mesmo que tenha todos os instrumentos para tal? A seguir ao golo foi tudo feito ao contrário, pontapés longos e sem destino, faltas à entrada da área, desconcentração generalizada.  

O que também é insondável é a forma como os adeptos do Vitória vêem o futebol. Devem ser os piores adeptos do Mundo. Esta gente não vê futebol, vê uma guerra. Depois de mais uma vez o Benfica ter sido espoliado de, no mínimo, um penalti e de uma serie de foras – de – jogo mal assinalados, têm a grandessíssima lata de acabar o jogo a gritar “gatuno”. Querem ser empreendedores com sucesso? Abram uma óptica em Guimarães. 

JL

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

ANDEBOL IGUAL A VERGONHA



Por mais críticas que façamos aos jogadores, equipa técnica ou dirigentes, os vários que passaram pelo clube nos últimos anos, elas ficam sem sustentação quando assistimos a certas arbitragens. Não é de agora. O que se estranha é continuarmos a enterrar dinheiro numa competição completamente comprada e corrompida. Bastava apenas estarmos na formação e nos seniores jogarmos com amadores. Mesmo que numa divisão secundária. Assim andamos apenas a glorificar os outros. 

JL

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

ASSOBIAR E TOCAR FLAUTA AO MESMO TEMPO



Correr mais que os outros, chegar primeiro, lutar pela bola e recuperar quando o sortilégio de um ressalto não é a nosso favor. Eis o Benfica de ontem contra o Anderlecht. A equipa. O resto não esteve à altura. 

“O Benfica somos nós, a força do Benfica somos nós, fds!”. Gritava bem alto um conhecido benfiquista em plena função fisiológica no urinol, a três minutos do início do jogo. Nada mais certo. Mas ontem os cerca de trinta mil espectadores não foram força nenhuma. Arrisco até em dizer que somos sempre os mesmos trinta mil. Os mesmos de sempre viram o Benfica a jogar como não jogava há alguns meses. Que fizeram no final, quando a equipa controlava um jogo que vencia por dois zero ao campeão da Bélgica? Na liga dos campeões. Simplesmente assobiaram. 

Qual maldição de Bela Guttman, esta gente que passa vida de cu no sofá e só vem ao estádio para ter o prazer imenso de assobiar e que era exactamente a mesma que na primeira parte aplaudia loucamente as imprevistas fintas do Cardozo, é que é uma praga de exterminação difícil. Para estes não existe contradição entre aplausos e assobios. Partes do corpo díspares emitem sons que o cérebro, limitado, não absorve. Todavia, para quem ouve e esteve noventa minutos a correr mais que os outros, a chegar primeiro e a lutar pela bola a diferença é abismal. Antes tocassem flauta. 

JL

domingo, 15 de setembro de 2013

ENTRE ALEIJADOS E FERIDOS…



…Lá vão aparecendo os resultados. Há muito que não me recordo de um início de época assim. Nos últimos dois jogos, apenas uma substituição em seis deve ter sido por razões tácticas. Conhecendo o treinador que temos, talvez até seja melhor assim. Acresce que tivemos um jogo airoso, muito pouco comum. Um central a fazer dois golos, o laboratório de Jesus finalmente a funcionar e um golo de canto, coisa raramente vista.    

Todavia e deixando a ironia um pouco para trás, com o fecho do mercado e com o estancar na entrada e saída permanente de jogadores do plantel, pelo menos até dezembro, chegamos à conclusão que esta largura de opções resultante de aquisições precipitadas e vendas frustradas está a minimizar significativamente os eventuais estragos provocados pela meia dúzia de craques no estaleiro. Um plantel mais curto e tínhamos sérios problemas.     
     
De qualquer forma, como a história do hábito e do monge, a necessidade faz o mestre e Jesus dá-se bem com estas confusões organizacionais. É um treinador que gosta de estar em modo working in progress. Mas a equipa não é de ferro e nota-se em campo que há ali muita coisa para terminar. O que num plantel com poucas saídas (mas muitas entradas) só para quem ainda entrou neste espirito jesuíta de constante altercação colectiva é que pode parecer estranho. 

Estar a fazer a pré-época agora e não quando mandam as regras do bom senso, pode trazer resultados lá mais para frente, não tenho dúvidas. A equipa bem oleada e forte fisicamente em março pode ser decisivo. No entanto, pontos perdidos não voltam atrás e os resultados da próxima terça-feira na Luz e depois em Guimarães, não sendo decisivos, vão ser determinantes para o sucesso da época e estamos de longe de estar preparados. Parece-me.    

JL

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

O TÁXI DA GLÓRIA



Eusébio da Silva Ferreira chegou a Portugal a 15 de Dezembro de 1960 integrado numa operação secreta com o nome de código: “Ruth Malosso”. Não sei se saiu da Portela de táxi ou numa viatura de algum zeloso funcionário do Benfica. O facto é que a “operação” correu bem e o Glorioso recebeu aquele que viria a ser um dos melhores do Mundo. O nono de sempre, segundo a FIFA e factualmente o melhor jogador português de todos os tempos.   

Esta época o Benfica virou-se para a Sérvia e encheu o plantel de jogadores dessa nacionalidade. Dá gosto ver uma das selecções mais promissoras da Europa cheia de jogadores do Benfica. Todos jovens e com fortes ambições. Um deles, de nome Markovic, está a ter uma estreia feliz por terras lusas. Estreia que já foi comparada, por alguns adeptos mais entusiasmados, à de Eusébio da Silva Ferreira. Apesar de exagerada, estas considerações em conjunto com o já observado em campo, leva-me a pensar que temos na equipa um valioso diamante. Só de pensar nisso fico com suores frios. O último diamante em bruto que pisou a Luz chamava-se Pedro Mantorras e foi muito mal estimado. Decididamente não temos espirito de joalheiros.    

A falta de cuidado com as nossas jóias vê-se até nas pequenas coisas. Um exemplo: os Sérvios chegaram hoje à Portela vindos da sua selecção e ao que parece estiveram vinte minutos na fila dos táxis no aeroporto a aguardar vez. Se fossem nórdicos poderia pensar que era um gosto particular por transportes públicos. Um fetiche que acompanhamos em reportagens mais os menos regulares sobre deputadas ou ministras suecas que vão de autocarro para o local de trabalho. Algo que talvez seja mais um mito urbano, porque se até o primeiro-ministro da Noruega que conduziu um táxi perdeu as eleições.

Mas estamos a falar de uns Sérvios que necessitamos que estejam em grande forma daqui a apenas três dias. A equipa precisa de pontos e a enfermaria está cheia. Todavia, lá estiveram eles na pedreira (nome dado pelos fogareiros à praça de táxis do aeroporto), uns bons vinte minutos a aguardar transporte. Possivelmente não havia nenhum zeloso funcionário do Benfica disponível. Que sorte tivemos em 15 de Dezembro de 1960 em existir pelo menos um. A glória faz-se a partir de pormenores. 

Mas nestas coisas de boleias para o aeroporto recordo sempre uma pequena história de Ricardo Araújo Pereira. E esta até mete o melhor jogador português de todos os tempos.  

“Numa manha de 1992, Deus entrou no carro dos meus pais e sentou-se ao meu lado, no banco de trás. Durante o trajecto que fizemos, entre a Estrada de Benfica e o aeroporto, não falei. Os meus pais, que não são crentes, tiveram coragem para conversar com Ele sobre trivialidades.

Eu nunca tinha visto Deus. Ao vivo, quero dizer. Já O tinha visto na televisão, a fazer os milagres. Mas eram imagens a preto e branco, antiquíssimas (o tempo do mito é remoto), e o que Deus fazia era simplesmente impossível, pelo que ninguém podia dizer que estava ali a prova de Sua existência. Acreditar n’Ele continuava a ser uma questão de fé. E era assim que, nunca o tendo visto, eu sabia que o mundo – a que os outros chamam bola de futebol – tinha sido uma invenção d’Ele.”

 JL