Eusébio da Silva Ferreira chegou
a Portugal a 15 de Dezembro de 1960 integrado numa operação secreta com o nome de
código: “Ruth Malosso”. Não sei se saiu da Portela de táxi ou numa viatura de
algum zeloso funcionário do Benfica. O facto é que a “operação” correu bem e o Glorioso
recebeu aquele que viria a ser um dos melhores do Mundo. O nono de sempre,
segundo a FIFA e factualmente o melhor jogador português de todos os tempos.
Esta época o Benfica virou-se
para a Sérvia e encheu o plantel de jogadores dessa nacionalidade. Dá gosto ver
uma das selecções mais promissoras da Europa cheia de jogadores do Benfica.
Todos jovens e com fortes ambições. Um deles, de nome Markovic, está a ter uma
estreia feliz por terras lusas. Estreia que já foi comparada, por alguns
adeptos mais entusiasmados, à de Eusébio da Silva Ferreira. Apesar de
exagerada, estas considerações em conjunto com o já observado em campo, leva-me
a pensar que temos na equipa um valioso diamante. Só de pensar nisso fico com
suores frios. O último diamante em bruto que pisou a Luz chamava-se Pedro Mantorras
e foi muito mal estimado. Decididamente não temos espirito de joalheiros.
A falta de cuidado com as nossas jóias
vê-se até nas pequenas coisas. Um exemplo: os Sérvios chegaram hoje à Portela
vindos da sua selecção e ao que parece estiveram vinte minutos na fila dos táxis
no aeroporto a aguardar vez. Se fossem nórdicos poderia pensar que era um gosto
particular por transportes públicos. Um fetiche que acompanhamos em reportagens
mais os menos regulares sobre deputadas ou ministras suecas que vão de
autocarro para o local de trabalho. Algo que talvez seja mais um mito urbano, porque
se até o primeiro-ministro da Noruega que conduziu um táxi perdeu as eleições.
Mas estamos a falar de uns Sérvios
que necessitamos que estejam em grande forma daqui a apenas três dias. A equipa
precisa de pontos e a enfermaria está cheia. Todavia, lá estiveram eles na
pedreira (nome dado pelos fogareiros à praça de táxis do aeroporto), uns bons
vinte minutos a aguardar transporte. Possivelmente não havia nenhum zeloso funcionário
do Benfica disponível. Que sorte tivemos em 15 de Dezembro de 1960 em existir pelo
menos um. A glória faz-se a partir de pormenores.
Mas nestas coisas de boleias para
o aeroporto recordo sempre uma pequena história de Ricardo Araújo Pereira. E
esta até mete o melhor jogador português de todos os tempos.
“Numa manha de 1992, Deus entrou no carro dos meus pais e sentou-se ao
meu lado, no banco de trás. Durante o trajecto que fizemos, entre a Estrada de
Benfica e o aeroporto, não falei. Os meus pais, que não são crentes, tiveram
coragem para conversar com Ele sobre trivialidades.
Eu nunca tinha visto Deus. Ao vivo, quero dizer. Já O tinha visto na televisão, a fazer os milagres. Mas eram imagens a preto e branco, antiquíssimas (o tempo do mito é remoto), e o que Deus fazia era simplesmente impossível, pelo que ninguém podia dizer que estava ali a prova de Sua existência. Acreditar n’Ele continuava a ser uma questão de fé. E era assim que, nunca o tendo visto, eu sabia que o mundo – a que os outros chamam bola de futebol – tinha sido uma invenção d’Ele.”
Eu nunca tinha visto Deus. Ao vivo, quero dizer. Já O tinha visto na televisão, a fazer os milagres. Mas eram imagens a preto e branco, antiquíssimas (o tempo do mito é remoto), e o que Deus fazia era simplesmente impossível, pelo que ninguém podia dizer que estava ali a prova de Sua existência. Acreditar n’Ele continuava a ser uma questão de fé. E era assim que, nunca o tendo visto, eu sabia que o mundo – a que os outros chamam bola de futebol – tinha sido uma invenção d’Ele.”
JL
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