N

Neste blog por vezes escreve-se segundo a nova ortografia, outras vezes nem por isso.


quarta-feira, 27 de junho de 2012

DOS TREINADORES

É usual dizer-se que as contas  fazem-se no final, pelo que chegou a hora:  terminada a época 2011-2012, falemos um pouco de quem esteve ao leme de algumas das nossas equipas: os treinadores.
O que se pretende é uma análise, naturalmente subjectiva às responsabilidades, méritos e deméritos de quem durante uma época inteira comandou os destinos de algumas das nossas equipas mais representativas em termos de competição.
Globalmente foi uma boa época. Poderia ter sido fantástica, poderia ter sido bem pior.
Foram dados passos importantes no retomar de uma certa "normalidade" no desporto português; não nos iludamos, porém: o sistema, o famigerado sistema aí está omnipresente e tentando perpetuar-se, custe o que custar.
Pensemos, pois, no que fizemos bem e no que poderíamos ter feito bem melhor: ,só assim, sendo melhores, muito melhores poderemos pôr fim ao período mais negro e mais sujo do desporto português.
A "ordem de aparição" dos treinadores de que falarei é puramente aleatória: os juízos de valor serão feitos no local próprio.

Prof. José Jardim (Voleibol)
Para mim, é o caso mais desconcertante deste Benfica.
Benfiquista convicto, foi praticante de categoria e como técnico será dos mais competentes a trabalhar em Portugal. 
Uma vida inteira dedicada ao voleibol desde os gloriosos tempos do histórico Liceu Gil Vicente. 
Sério, profissional, rigoroso, trabalhador, dedicado.
E no entanto...
Pelo 3º ano consecutivo, o Benfica perde o campeonato nos play-offs, o que convenhamos não será apenas coincidência nem fruto de um regulamento que embora absurdo era de todos conhecido desde o inicio.
O que se passou para que consecutivamente em 3 anos, mas sobretudo nos últimos 2,  o Benfica perca o campeonato no único momento em que está proibido de falhar, após uma época em que se passeou pelos pavilhões esmagando adversários em série?
O que falhou? Porque não consegue o melhor plantel de Portugal, liderado por aquele que será provavelmente o melhor treinador português, lidar com a pressão competitiva de uma final ?
Depois de 3 falhanços consecutivos, o prof. José Jardim aproxima-se perigosamente da zona em que não mais haverá lugar nem tolerância para o fracasso.
Seria, para mim, uma enorme desilusão se José Jardim fosse obrigado a deixar o seu clube de sempre, saindo pela porta pequena.


Prof. Jorge Rito (Andebol)
O andebol é para mim, um caso quase perdido, uma modalidade em que aplicaria uma espécie de tolerância zero.
Em termos práticos: ou a vitória ou o fim do andebol profissional no Benfica.
Nada disto, tem que ver, obviamente, com a figura, a competência e o profissionalismo do Prof. Jorge que me parecem acima de toda a suspeita.
Com a distância possível, creio que Jorge Rito terá sido outra vitima de uma equipa(?) aburguesada, cheia de vícios, sem ambição nem garra para lutar sempre pela vitória.
Olho para Jorge Rito e para os resultados do andebol e percebo o quão fui injusto para o Prof. José António.
Há qualquer coisa naquele grupo de jogadores que não funciona e que a continuar consumirá recursos, meios, treinadores, hipotecando talvez, o futuro da modalidade no Benfica
Conseguirá Jorge Rito dar a volta a uma situação que parece eternizar-se ?
É esse o grande desafio para a próxima época.


Carlos Lisboa (Basquetebol)
Um dos vencedores da época.
Uma vitória conseguida "in extremis", em circunstâncias dramáticas, depois de desperdiçada a ocasião para resolver a situação em casa, diante dos nossos.
Lisboa carregará sempre um estigma, um pesado fardo: o de ter sido o melhor jogador português.
O público, o povo benfiquista tenderá sempre a comparar o Lisboa-jogador com o Lisboa-treinador.
Injusto para ambos: Lisboa-jogador foi enorme, único, irrepetível; Lisboa-treinador parece-me apenas razoável.
Uma grande virtude: ter  acreditado até ao fim que o sonho era possível.
Um sinal positivo: a aposta na formação e o facto de ter chamado Goran que a conhece como ninguém, para adjunto.
Sinais inequívocos de que há uma visão global e um projecto para a modalidade.
O facto de acumular o cargo de director-geral das modalidades com o de treinador de basquetebol, parece-me um pouco a quadratura do círculo: como será no dia em que as coisas não correrem bem ?
O director-geral demite o treinador ou este sai incompatibilizado com o primeiro ?
Uma situação a rever para defesa de “ambos”...



Paulo Fernandes (Futsal) 
Seja pela forma como André Lima saiu, seja pela sua origem, não fui grande entusiasta da contratação de Paulo Fernandes.
Um campeonato 2010-2011 perdido de forma demasiado óbvia numa final em que não ganhamos um único jogo, reforçou as minhas convicções iniciais e as minhas inultrapassáveis embirrações pessoais.
Chegou a hora de dar a mão à palmatória: com a vitória neste campeonato, Paulo Fernandes terá conquistado definitivamente o respeito e admiração de toda a nação benfiquista.
Apreciei sobremaneira a forma emocionada e emocionante como comemorou com os seus, com os nossos.
Rendido ao público da Luz, agradeceu o seu apoio, tornando-se um dos nossos para sempre.
Ao longo da época, apreciei em Paulo Fernandes uma qualidade que faz a diferença nos líderes: a forma intransigente como defendeu o seu grupo, protegendo-o e blindando-o.
Um treinador assim, terá  mais hipóteses de ter o grupo consigo, ficando seguramente mais próximo do sucesso.
Na hora da vitória, Paulo Fernandes foi grande porque humilde,rejeitando protagonismos fáceis: os louros da vitória foram para os seus rapazes, ficando para ele a enorme e justa satisfação do dever cumprido e da festa entre os seus.
Uma lição para alguns como adiante se verá.



Jorge Jesus (Futebol)
Digo-o sem ponta de satisfação: o grande derrotado da época.
Por mais que tente tapar o sol com  a peneira ou que assegure que a Terra gira ao contrário , Jesus tem de encarar a realidade: a época 2011-2012 foi um monumental fracasso, na senda, aliás do que havia acontecido na época anterior.
Jorge Jesus é um caso paradigmático do desperdicio de algum talento e muitas capacidades.
Jesus é inequivocamente um homem do futebol nos seus defeitos e nas suas virtudes.
Intuitivo e empirico, Jesus é um treinador moldado numa certa escola da vida do futebol português: a facilidade com que pontapeia a gramática a par da paixão genuína pelo jogo são uma imagem de marca de Jesus, mas também de um certa corrente do futebol da paróquia.
E no entanto, Jesus deita tudo a perder: arrogante e insistentemente teimoso, fecha-se no autismo de quem se julga um visionário ou uma espécie de Midas do futebol moderno que transforma em quilates de ouro puro qualquer sul americano que desembarque na Luz.
Jesus  parece incapaz de aprender com os erros, repetindo-os ano após ano, numa lógica irritante e absurda, desbaratando um capital de confiança e tolerância  que nenhum treinador do Benfica sequer sonhou obter nos últimos 20 anos.
Acabou, porém.
Assim Jesus o tenha percebido, para bem do futebol do Benfica.



Luis Sénica (Hóquei em Patins)
Pelo simbolismo de uma vitória que no inicio da época pareceria pouco menos que impossível, o Prof. Luis Sénica é um dos grandes triunfadores da época benfiquista.
Numa modalidade completamente minada pelo sistema, com um campeão crónico e consagrado por decreto, Luis Sénica provou o que pode a força, o querer e ambição, mas também o trabalho e o profissionalismo.
Percebeu o triz que falhou o ano passado e tratou de ir buscar Sérgio Silva.
Aposta arriscada num atleta trintão, aparentemente desgastado por um carreira longa.
Puro engano: Sénica percebeu antes dos outros o que um atleta com a fibra e a experiência de Sérgio poderia trazer à equipa.
Vimos todos e por isso estamos gratos: pode ter sido o o principio do fim de uma longa noite que não dignificou o hóquei.
A vamos ver agora quais as soluções que Luis Sénica inventa para uma equipa que precisará de algum sangue novo, mas acredito que o mais difícil foi feito. 
Apesar do jogo sujo e dos protestos de quem apenas sabe ganhar dessa forma.


RC


4 comentários:

  1. Concordo em quase tudo, mas acrescento uma opinião pessoal.

    Prof. Jardim:
    Os treinadores têm que viver de resultados. A única coisa boa dele ficar é que vamos todos estar à espera de falhar na negra e isso vai aliviar alguma pressão na equipa. Mas por mim esta época já não ficava como treinador.

    Prof. Rito:
    Não concordo em acabar com o andebol. Isso não. Mas que há ali muitos meninos que ganham demasiado, isso há... O andebol vai ser um problema difícil de resolver nos próximos anos. E precisamos de melhorar e muito a nossa formação.

    O "fantástico" Carlos Lisboa:
    Não é forte como treinador, mas é um vencedor. Apesar de tudo (o título ser como foi soube muito melhor) temos que fazer mais com a equipa que temos. Mas vencendo, fez por merecer o comandar a equipa na próxima época.

    Paulo Fernandes:
    Nada a acrescentar.

    Jorge Jesus:
    Nada a acrescentar.

    Luís Sénica:
    O "herói" do ano desportivo!
    Por acaso fui dos que concordou com a entrada do Sérgio (por mim até não tinha ido para o Candelária mas sim logo para a Luz). Espero que o Marc Coy seja um grande reforço, se possível melhor que o Sérgio. O próximo ano será bem mais duro! Ps: Foi pena a final da taça...

    ResponderEliminar
  2. Marc Coy foi o melhor marcador em Espanha apesar de ser defesa. Deve ter um grande remate.

    ResponderEliminar
  3. De acordo com quase toda a análise. Pontos fotes a realçar em todas modalidades ( falta o Atletismo!):
    - a excelente formação que existe no Basquetebol ( com vitórias nos vários escalões e promoção de alguns atletas aos seniores; no Óquei também me parece existir boa formação. Onde ela falha ou tem falhado, é no Futsal, sendo inadmissível que o Sporting triunfe em mtoda a linha nos escalões jovens desta modalidade.
    - não sou fã nem adepto do Paulo Fernandes. ESpero que fique só mais um ano, mas que ganhe a UEFA CUP.
    - por mim, ao Andebol, apenas deverá ser dada mais uma ´poca: ou começa a ganhar, ou acaba.

    ResponderEliminar
  4. Não se esqueçam do tenis de mesa

    ResponderEliminar