O anonimato na internet, em
blogues por exemplo, é até aceitável, mesmo existindo uma relação desequilibrada
entre a desresponsabilização e a liberdade. Um jornal, especialmente nestes
tempos em que o valor do papel escrito está em declínio acentuado, tem de ter
outras responsabilidades. Tratando-se do semanário Expresso, uma instituição
com três décadas, essa garantia é ainda maior. Conspurcar as suas páginas com cretinismos
é o mesmo que grafitar o Mosteiro dos Jerónimos.
A notícia anónima que hoje o Expresso
publica e dá grande destaque, fazendo uma chamada na sua primeira página - na primeira
página, realço - é do mais profundo chiqueiro tipográfico dos últimos anos. Em
primeiro lugar, não vem assinada. Nem com simples iniciais. Não se trata de uma
chamada de pé de página, nem uma entrada humorística da coluna “gente”. Houve
investigação? Houve fontes? Houve confirmação oficial do clube? Quem é o responsável?
Provavelmente deve ser da mesma autoria das notícias que quinzenalmente surgem
neste semanário sobre as dificuldades financeiras do Benfica.
Acresce que a notícia é de uma imbecilidade
atroz. Fala de um hino de campeão 14/15 e fala de uma nova versão do hino
escrito por Paulino Gomes Júnior. Só quem não conhece a letra. De resto, refere
que algumas pessoas foram convidadas para trabalhar num tema musical alusivo ao
clube. Algo que por acaso acontece todos os anos, seja o Benfica campeão ou
não.
Mas mesmo que fosse verdade, mesmo
que o Benfica tentasse antecipar a produção do tema da próxima época para que,
caso o campeonato nos sorrisse, o aproveitar, que importância tem este facto
para vir com tanto destaque no mais importante jornal generalista do país? A título
de exemplo, o destaque é igual às próximas presidenciais, às movimentações
jiadistas em Portugal e às novas sobre o caso José Sócrates.
Como provavelmente podia não
chegar, a “coisa” é rematada com uma página inteira sobre a questão da utilização
ou não dos emprestados frente ao seu clube de origem. Algo que vem acontecendo
desde o início da época e como já foi explicado no post anterior é uma falsa
questão. No entanto, este é o momento. Uma página, inteira, realço.
Estas publicações cirúrgicas não
são inocentes, nem ocasionais. Esta é a semana decisiva. Se viesse do lado do Record
ou do Jogo ainda se compreendia, ou pelo menos não surpreendia. Que a maltinha
que tem o privilégio de escrever no Expresso sobre desporto é cega pelo azul
também já se sabia. Contudo, este descarado ataque, esta pressão desmesurada sobre
uma equipa que apesar de ter feito um menor investimento está liderar o
campeonato é totalmente incompreensível. Mais, é vergonhosa e indigna.
Estes tipos, quando nalgum evento
social referem a sua profissão, devem dizê-lo com um sorriso nos lábios - “Sou
jornalista”. Mas o sorriso deve se desvanecer rapidamente, porque lá no fundo,
sabem que entre eles e as mulheres que passam frio, encostadas ao muro do Técnico
é apenas uma questão de temperatura ambiente.
JL
Expresso, uma instituição com 4 (quatro) décadas, nasceu e foi publicado em 1973 e eu umas 'ajudas' no abanar da Ditadura.
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