É óbvio que o nosso futuro passa
por uma equipa de futebol altamente competitiva, que ganhe três em cada quatro
campeonatos e a passe com frequência a fase de grupos da Liga dos Campeões, sustentada
financeiramente por um conjunto de receitas ordinárias. O sobe e desce de
investimento, para além de ser mais arriscado desportivamente, pode causar fissuras
no clube, tanto ao nível da sua estrutura técnica, como a nível económico-financeiro.
Contudo, não chega. E não chega
porque o mercado em que o Benfica está instalado é minúsculo. Sofremos uma espécie
de claustrofobia competitiva. Vejamos os ataques dementes do trinca-bolotas. Em
outra dimensão seria uma anedota de rodapé, aqui faz capas de jornais. Cada vez
que o trinca-bolotas abre a boca é como um peido num elevador. E é desse elevador
que temos de sair.
O futuro tem de passar impreterivelmente
por novos mercados. Algo já há muito detetado pelos maiores clubes europeus e
muitos deles não têm a nossa diáspora, nem à disposição a enorme paixão ainda
vivida nos países de expressão portuguesa.
Mas não só. Deve ir para além do futebol.
É difícil, vivemos num país em que o desporto extra futebol é mesmo paisagem. No
entanto, é um caminho que tem ser feito e se for com o Benfica a liderar tanto
melhor.
O ecletismo do Benfica, apesar de
mediaticamente mal tratado (por culpa nossa), é único no mundo. Nenhum clube
tem tanta expressão. Essa vantagem deve ser trabalhada à séria e passa por três
modalidades que à primeira vista podem parecer improváveis: Futsal, Ciclismo e Rugby.
O Futsal é a modalidade de
pavilhão com maior crescimento. Talvez pela velocidade, pela incerteza dos
resultados ou pela analogia com o futebol. Acresce que é uma modalidade onde temos
reais hipóteses de ganhar na europa e no mundo. Se juntarmos o facto da fase
final do Nacional se realizar já com todas as competições paradas, ou seja, com
a quase exclusiva atenção de todos os agentes, concluímos da importância do
sucesso na mesma.
O Ciclismo tem um peso mediático gigantesco.
As provas, que se realizam, na sua maioria, durante o período de defeso do
futebol, são essencialmente um enorme espetáculo televisivo. Com as comunidades
portuguesas espalhadas por essa europa considero que não seria impossível encontrar
um patrocínio que garantisse a participação do nosso clube nas maiores provas
europeias. A volta a França, por exemplo, é vista mundialmente. Da América ao Oriente.
Três anos de sucesso no Tour valeriam para a promoção do nosso nome como uma
Liga dos Campeões.
O Rugby é um desporto com
futuro. Moderno, urbano, em crescimento. Os seus praticantes e adeptos são na
sua larga maioria filhos das classes média-altas, estudantes universitários,
quadros superiores. Dela pode surgir uma importante base de apoio para o clube.
O Benfica não pode continuar a olhar para a secção das sedas como uma estrutura
autónoma. Apesar de SAD, é nossa e tem uma história centenária. Não deve definhar
na segunda divisão.
JL
Bom texto, é raro ler-se este tipo de reflexão online sobre o clube. No que toca ao rugby são necessárias instalações próprias para criar a massa crítica de que fala.
ResponderEliminarCiclismo: o orçamento mínimo para o World Tour são 10 milhões, não é preciso dizer mais nada. Mas não há razão para não criar uma secção para a formação, desde que seja auto-sustentável.
Pessoalmente fazia uma aposta diferente: futebol feminino. Já temos o CFC e dezenas de escolas espalhadas pelo país e no estrangeiro, prontas para formarem milhares de jogadoras (mais adeptos e sócios). Já temos uma formação de top mundial. Já temos adeptos de futebol (imensos!) para assistir aos jogos no CFC.
Após 2 ou 3 anos a equipa jogava na Liga dos Campeões onde podia chegar longe, e talvez mesmo vencer. Os jogos são transmitidos na Eurosport, para toda a Europa, e participam grandes clubes europeus, como o Barcelona, Chelsea, PSG, etc. Isto com um investimento inferior ao do voleibol, por exemplo, e com muito maior interesse para os patrocinadores. É algo que pode dar um grande retorno ao clube, devia ser prioritário criar uma equipa, antes que outro grande se antecipe.
Cumprimentos.
Muito bom. A do ciclismo, especialmente, é muito bem vista.
ResponderEliminarOlá JL/Cosme!
ResponderEliminarO maior problema da internacionalização prende-se com o facto de o estrangeiro quer ter acesso aos jogos das competições nacionais e não apenas aos jogos de uma única equipa.
O problema nacional é que há uma grande diferença entre as cotas de mercado dos clubes em Portugal. O Benfica claramente vale muito mais de metade do valor do mercado nacional. Não porque tem mais adeptos, como também por causa dos "anti" que só vêem os seus clubes porque jogam contra o Benfica. E, como não há consenso sobre esta temática, os valores de referência para uma possível concentração de direitos nunca será devidamente tomada e ponderada. Não pelo Benfica, que já demonstrou abertura, para em prol do futebol português conceder uma parcela do mercado que tem realmente direito, mas sim porque há dois clubes "ditos grandes" que no fundo só o são por estarem constantemente de bicos de pés e a agarrarem-se às calças do Benfica.
Depois, para completar, falta-nos "know-how" e liderança nas estruturas para podermos arranjar esses consensos e sobretudo ter capacidade para negociar ou exportar o produto futebol nacional. Por exemplo, basta ver o trabalho que a Olivedesportos e Sport TV não fizeram durante os anos que tiveram esse poder nas mãos, comparado com o que foi feito em países como a Inglaterra e a nossa vizinha Espanha.