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Neste blog por vezes escreve-se segundo a nova ortografia, outras vezes nem por isso.


segunda-feira, 4 de agosto de 2014

A GAITANIZAÇÃO, SINTOMAS E CAUSAS




Veja-se o caso do Nico Gaitan, que neste momento é, sem dúvida, imprescindível. O que diz mais da capacidade atual da equipa do que da do jogador. Tem habilidade como poucos. Mas o futebol não é feito de habilidades. Olhando para a sua carreira no Benfica, é um habilidoso que às vezes, muito às vezes, faz a equipa ganhar. Contam-se pelos dedos os grandes jogos onde fez a diferença. Talvez por isso vemos jogadores a sair todos os anos e o Gaitan continua a aguardar que alguém avance com os 30 milhões.

O problema do Gaitan é que está convencido que vale sempre esse valor. E podia valer. Mas não vale. Não vale porque apesar de todas as suas competências ainda não faz a diferença com a frequência necessária. E num clube como o Benfica, com as suas limitações financeiras, um jogador com esse valor tem de fazer a diferença a maior parte das vezes. 

Este sintoma de convencimento, que faz com que o brilhante Gaitan isolado em frente ao guarda-redes não consiga marcar, que remate de letra quando se pede um remate simples, que tente fazer um passe deslumbrante quando a bancada pede golo, começa a ser transversal a vários sectores do clube. De alguns jogadores do Futebol à secção de andebol. 

A falta de humildade e a excessiva presunção são a antecâmara dos desastres desportivos. E nisso o Benfica é useiro e o Jesus é catedrático. 

Estava fora do país e não assisti em direto ao Benfica- Estoril da malfadada taça de honra. Mas pelas capas dos jornais do dia seguinte, tínhamos um prodigioso jovem brasileiro no plantel, de seu nome Talisca. Segundo os relatos escritos, para além do golo, encheu o campo. Dois dias depois, ao ver a gravação do jogo, deparei-me com um jogador que, apesar de um pé esquerdo que lhe dá uma enorme margem de progressão, está ainda longe de vir ser, no imediato, um titular indiscutível de um Benfica que queira continuar ganhar títulos. 

Para bem do jogador este inusitado entusiasmo esfumou-se ao ritmo dos maus resultados e exibições da equipa. Ao menos, esta imbecil pré-época serviu para alguma coisa.  

Aconteceu algo parecido com o João Teixeira. Também ele um jogador interessante e com possibilidades de crescer. Mas bastou um jogo, mesmo incompleto, para aos olhos de muitos se tornar um jogador feito. Entrevistas à família, namorada, antigos treinadores. Chegou-se a dizer que já não precisávamos de um trinco. Mais uns quilos e estava ali o seis para esta época. 

Na Suíça e na Inglaterra vimos bem onde está o buraco. Nenhuma equipa do mundo deixa a defesa ao deus dará, sem o meio campo como primeiro tampão. Ainda mais frente a equipas de milhões, ainda mais quando temos um César cansado e inadaptado, um Sidnei cansado e sempre inadaptado e um Artur que é tão inapto que até nos cansa. 

Com o sobrevalorizado Cancelo passa-se algo parecido de cada vez que joga na equipa principal. Uma finta, um drible vistoso, mesmo inconsequente e temos craque. Indiscutível substituto para o Maxi. Já nem para o Benfica serve, fala-se logo em futuro defesa direito da seleção. 

Este convencimento a que chamamos gaitanização é muito específico. Não surge do nada. É algo que brota sem se dar por isso, mas galopante vai atingindo o nervo do agente receptor. Nasce da necessidade da notícia e vai acrescento nas capas dos jornais, nos pequenos comentários dos blogues, das intervenções brilhantes dos paineleiros televisivos. O agente recetor vai-se convencendo que está bem acima das suas possibilidades, pior, que o esforço e o trabalho são completamente desnecessários. Estou certo, por exemplo, que o andebol está a precisar de um processo urgente de desgaitanização. 

O clube não está inocente neste fenómeno. Umas vezes por inação, outras por confundir a necessária comunicação entre a massa adepta e os atletas com a criação de ídolos de barro. 

Mas a inação tem consequências mais graves na chamada gaitanização negativa. 

É sabido que o Benfica não tem um guarda-redes à altura, mas o Artur também não é nenhum coxo. Esta indefinição na contratação de uma alternativa deu cabo do pouco crédito que o guarda-redes ainda tinha perante a massa associativa. Deve ir com uma moral bonita para Aveiro. O clube não soube defender o jogador e com isso a equipa. 

O mesmo se passa com os centrais. César tem 20 anos, nunca jogou na Europa. Muito pior esteve o Lusão quando cá chegou. Mais um jogos sem um número seis à frente e o jovem brasileiro fica queimado no Benfica. Seria uma pena, até se gastou umas massas. 

Todavia, onde a gaitanização tem mais consequências é na Direcção. O 83 % das últimas eleições deu-lhes o convencimento necessário para se estarem a borrifar para a massa associativa. O Benfica, neste momento, não dá mais informações que uma companhia de seguros ou um banco. Preço dos lugares, dos bilhetes, horas dos jogos, as promoções, etc. Para além disto, mais nada. Ninguém sabe como são os negócios, o que está e quem está envolvido, qual é estratégia, para onde vamos. 

Há um convencimento que cega. 

Dois exemplos:

Num Benfica transparente era aceitável que um negócio, como o do Djavan continuar sem uma explicação?
Algum dos leitores deste blogue sabe se o Sílvio é ou não jogador do Benfica? 

Esta não é uma doença rara, nem incurável. O tempo passa e ela agrava-se e ameaça tornar-se crónica.



JL

1 comentário:

  1. Dos melhores posts dos últimos tempos.
    Não é a tocar na ferida, é mesmo a tocar no que causa a ferida.

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