Veja-se o caso do Nico Gaitan,
que neste momento é, sem dúvida, imprescindível. O que diz mais da capacidade atual
da equipa do que da do jogador. Tem habilidade como poucos. Mas o futebol não é
feito de habilidades. Olhando para a sua carreira no Benfica, é um habilidoso
que às vezes, muito às vezes, faz a equipa ganhar. Contam-se pelos dedos os
grandes jogos onde fez a diferença. Talvez por isso vemos jogadores a sair
todos os anos e o Gaitan continua a aguardar que alguém avance com os 30
milhões.
O problema do Gaitan é que está
convencido que vale sempre esse valor. E podia valer. Mas não vale. Não vale
porque apesar de todas as suas competências ainda não faz a diferença com a frequência
necessária. E num clube como o Benfica, com as suas limitações financeiras, um
jogador com esse valor tem de fazer a diferença a maior parte das vezes.
Este sintoma de convencimento,
que faz com que o brilhante Gaitan isolado em frente ao guarda-redes não
consiga marcar, que remate de letra quando se pede um remate simples, que tente
fazer um passe deslumbrante quando a bancada pede golo, começa a ser
transversal a vários sectores do clube. De alguns jogadores do Futebol à secção
de andebol.
A falta de humildade e a excessiva
presunção são a antecâmara dos desastres desportivos. E nisso o Benfica é
useiro e o Jesus é catedrático.
Estava fora do país e não assisti
em direto ao Benfica- Estoril da malfadada taça de honra. Mas pelas capas dos
jornais do dia seguinte, tínhamos um prodigioso jovem brasileiro no plantel, de
seu nome Talisca. Segundo os relatos escritos, para além do golo, encheu o
campo. Dois dias depois, ao ver a gravação do jogo, deparei-me com um jogador
que, apesar de um pé esquerdo que lhe dá uma enorme margem de progressão, está
ainda longe de vir ser, no imediato, um titular indiscutível de um Benfica que
queira continuar ganhar títulos.
Para bem do jogador este
inusitado entusiasmo esfumou-se ao ritmo dos maus resultados e exibições da
equipa. Ao menos, esta imbecil pré-época serviu para alguma coisa.
Aconteceu algo parecido com o João
Teixeira. Também ele um jogador interessante e com possibilidades de crescer.
Mas bastou um jogo, mesmo incompleto, para aos olhos de muitos se tornar um
jogador feito. Entrevistas à família, namorada, antigos treinadores. Chegou-se
a dizer que já não precisávamos de um trinco. Mais uns quilos e estava ali o
seis para esta época.
Na Suíça e na Inglaterra vimos
bem onde está o buraco. Nenhuma equipa do mundo deixa a defesa ao deus dará,
sem o meio campo como primeiro tampão. Ainda mais frente a equipas de milhões,
ainda mais quando temos um César cansado e inadaptado, um Sidnei cansado e
sempre inadaptado e um Artur que é tão inapto que até nos cansa.
Com o sobrevalorizado Cancelo passa-se
algo parecido de cada vez que joga na equipa principal. Uma finta, um drible
vistoso, mesmo inconsequente e temos craque. Indiscutível substituto para o Maxi.
Já nem para o Benfica serve, fala-se logo em futuro defesa direito da seleção.
Este convencimento a que chamamos
gaitanização é muito específico. Não surge do nada. É algo que brota sem se dar
por isso, mas galopante vai atingindo o nervo do agente receptor. Nasce da
necessidade da notícia e vai acrescento nas capas dos jornais, nos pequenos
comentários dos blogues, das intervenções brilhantes dos paineleiros televisivos.
O agente recetor vai-se convencendo que está bem acima das suas possibilidades,
pior, que o esforço e o trabalho são completamente desnecessários. Estou certo,
por exemplo, que o andebol está a precisar de um processo urgente de
desgaitanização.
O clube não está inocente neste
fenómeno. Umas vezes por inação, outras por confundir a necessária comunicação
entre a massa adepta e os atletas com a criação de ídolos de barro.
Mas a inação tem consequências
mais graves na chamada gaitanização negativa.
É sabido que o Benfica não tem um
guarda-redes à altura, mas o Artur também não é nenhum coxo. Esta indefinição
na contratação de uma alternativa deu cabo do pouco crédito que o guarda-redes
ainda tinha perante a massa associativa. Deve ir com uma moral bonita para Aveiro.
O clube não soube defender o jogador e com isso a equipa.
O mesmo se passa com os centrais.
César tem 20 anos, nunca jogou na Europa. Muito pior esteve o Lusão quando cá
chegou. Mais um jogos sem um número seis à frente e o jovem brasileiro fica
queimado no Benfica. Seria uma pena, até se gastou umas massas.
Todavia, onde a gaitanização tem
mais consequências é na Direcção. O 83 % das últimas eleições deu-lhes o
convencimento necessário para se estarem a borrifar para a massa associativa. O
Benfica, neste momento, não dá mais informações que uma companhia de seguros ou
um banco. Preço dos lugares, dos bilhetes, horas dos jogos, as promoções, etc. Para
além disto, mais nada. Ninguém sabe como são os negócios, o que está e quem
está envolvido, qual é estratégia, para onde vamos.
Há um convencimento que cega.
Dois exemplos:
Num Benfica transparente era
aceitável que um negócio, como o do Djavan continuar sem uma explicação?
Algum dos leitores deste blogue
sabe se o Sílvio é ou não jogador do Benfica?
Esta não é uma doença rara, nem
incurável. O tempo passa e ela agrava-se e ameaça tornar-se crónica.
JL
Dos melhores posts dos últimos tempos.
ResponderEliminarNão é a tocar na ferida, é mesmo a tocar no que causa a ferida.