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Neste blog por vezes escreve-se segundo a nova ortografia, outras vezes nem por isso.


quarta-feira, 23 de maio de 2012

A pior fase do ano.



Para quem segue o Benfica com paixão, alegria e sacrifício durante uma época inteira, chegou a pior fase do ano.
Não porque o campeonato tenha acabado. Infelizmente, foi apenas mais um que não deixou saudades, mas isso são outras estórias.

Trata-se da chegada desse circo ambulante, pomposamente chamado seleção nacional, ou antes Seleção Nacional para não chocar os patriotas que nestas alturas aparecem como caracóis no orvalho matinal.
Chegou a altura da verdadeira tribo do futebol se retirar, dando lugar por um mês a quem  mais não faz do que maldizer o futebol durante um ano inteiro.
É um verdadeiro circo dos tempos medievais, com o seu característico cortejo de aberrações. Sempre em tom festivo e patriótico, como convém.
Durante 30 ou 40 dias, veremos, por exemplo, romarias de parolos e basbaques rumo aos treinos do Cristiano Ronaldo, declarações populares de orgulho no Miguel Lopes (quem???), entrevistas de fundo à professora primária desse grande avançado do futebol moderno que responde pelo nome de Hélder Postiga.
Gente que não distingue um canto de um penalty dará opiniões fundamentadas sobre o esquema tático em que jogam os heróis de Paulo Bento, tudo envolvido naquele mistico fervor patriótico que arrasou os odiosos castelhanos em Aljubarrota.
Na rua, nos mercados, na apinhada linha verde do Metropolitano de Lisboa, nos urinóis públicos, no banco de urgências de S. José, o povo em peso levantar-se-á por uma grande e bela causa: a campanha da Seleção Nacional.

Aos "populares", juntar-se-ão os nossos jornalistas num festim para os sentidos.
Até ao início do Europeu, saberemos seguramente o que aconteceu em cada um dos 86400 segundos que constituem a jornada do nosso CR7.
As alterações de penteado, o aparecimento de uma nova e irritante borbulha na testa, uma chamada fora de horas para a D. Dolores: tudo potenciais aberturas de telejornal com o inefável Nuno Luz a arfar junto ao hotel onde os nossos bravos estagiam.

Começará enfim, o Europeu com os nossos jornalistas habitualmente servis, submissos, cobardes, incompetentes, em êxtase absoluto.
Continuarão incompetentes, é certo, mas o fervor pela nação vai transfigurá-los: guinchos e urros próprios de criaturas fantásticas assinalarão as dezenas de penalties não assinalados em  cada jogo sobre Cristiano Ronaldo, os foras de jogo de jogo mal assinalados a Cristiano Ronaldo, os espantosos golos de Hugo Almeida, os desarmes limpos e em souplesse de Bruno Alves.

Vitor Serpa, em "A Bola" fará editoriais comovidos e comoventes sobre o fervor patriótico de uma nação amordaçada durante o ano pelos trogloditas que vão aos estádios apenas pelo prazer de ver o seu clube ganhar.

Por mim, não se incomodem: esperarei sentado e quieto na Bancada Meo, Piso 3, sector 22, fila W, lugar 1.

Até breve.
RC



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