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Neste blog por vezes escreve-se segundo a nova ortografia, outras vezes nem por isso.


quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

ADEUS ZÉ PICANHA


Os olhos esbugalhados e a boca aberta foram a sua imagem de marca.
Em campo fazia por vezes lembrar um barril em movimento.
Poderoso mas claramente cilíndrico.
Corria, enrolava-se, caía e levantava-se numa cadência certa e adivinhada.
Sempre de olhos arregalados e de boca escancarada, entre o pasmo e a respiração ofegante a que uns quilos aparentemente mal distribuídos talvez não fossem alheios.
Vou ter saudades do “Zé Picanha”.
Trapalhão mas generoso, abnegado mas pouco afortunado, um daqueles gordos simpáticos que todos conhecemos e com quem todos jogamos um dia à bola: um daqueles imprescindíveis que, obviamente, iam parar à baliza.
Aparentemente, o nosso treinador também ele um produto originário do futebol malandro e vivaço da rua, se preparava para castigar o gordo: ao que parece não à baliza, onde seguramente seria menos inábil com os pés que o desajeitado Artur, mas a defesa-esquerdo, talvez para que finalmente tomássemos plena consciência da felicidade de ter Melgarejo.
Bruno César fez bem e pôs-se ao fresco, ou antes, ao quente e lá rumou até à Arábia Saudita onde não lhe faltarão oportunidades para arregalar os olhos de espanto perante temperaturas absurdas mais próprias para beber proibidos chopinhos do que para andar a correr aos repelões atrás de uma bola.
Vou ter saudades do “Zé Picanha”: fez golos importantes, chegou a ser um jogador interessante e sobretudo, representava, por vezes, um curto momento de “non sense” num futebol demasiado marcado pela tensão e pelo excessivo rigor geométrico de movimentos.
Na sua volumetria e formato pouco ortodoxos, Bruno César nunca regateou uma gota de suor: correu, enrolou-se, caiu, levantou-se, chutou a torto e a direito, poucas vezes acertou: nunca deixou de tentar, ao contrário de outros que por lá continuarão a arrastar-se, esbanjando o talento com que a sorte os bafejou, porque a indolência e a preguiça são mais fortes.
Duvido hoje como sempre duvidei que Bruno César seja jogador para o Benfica e para o futebol europeu, mas este cilíndrico e achatado nº 8 ficará, seguramente, para a história do Benfica como um jogador diferente, algo desconcertante até.
Felicidades, “Zé Picanha”!



RC

3 comentários:

  1. BC ontem disse que foi prejudicado porque Jesus fazia um rodizio (palavra cara para ele) com as convocatórias. JJ não quis contrariar e afirmou que se tivesse sido convocado contra o moreirense jogava a lateral esquerdo.
    Que dupla interessante se desfez.

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  2. Perdoem-me a comparação, mas a espaços este jogador fazia-me lembrar o grande Isaías. Boa sorte, gordo!

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  3. Ele correu, caiu, levantou-se, chutou, não desistiu. Like a isto.

    Foi importante na época passada. O remate acaba por ser o ponto mais forte dele. Ao contrário da maioria penso que o centro do terreno não é o sítio onde joga melhor.

    Esta época o cenário estava a ser negro, ele bem que tentava e as coisas não saíam, um pouco à semelhança do Nolito.

    Mas não irei criticar um atleta do Sport Lisboa e Benfica que dá tudo o que tem.
    Boa sorte, picanha!

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