É dramático,
mas inquestionável: o Benfica desabituou-se de ganhar.
A simples
perspectiva da vitória tornou-se um fardo ou mais que isso, um verdadeiro martírio.
Anos a fio
arredado das grandes decisões, de títulos, da glória trazem destas coisas: uma
espécie de vertigem perante o êxito, por mais próximo que esteja, por mais
óbvio que pareça.
É o Benfica
um gigante adormecido, como alguns dizem ?
Pior que
isso, muito pior: é um monstro entorpecido, que tem medo da própria grandeza e
que se assusta com a própria sombra.
Por isso,
cada vez que tem que ganhar, treme de pavor perante a simples perspectiva de
sucesso, enredando-se nos seus fantasmas e nos seus medos.
E quase
sempre perde. Obviamente.
Recuemos 3
meses e meio no tempo, cento e pouco dias, nada na vida de um homem, muito menos na vida de um clube
gloriosamente centenário.
A 20 dias do
final da época, temos o mundo aos pés: finalistas europeus 20 anos depois, a 2
vitórias da vitória no campeonato (jogando duas vezes em casa), finalistas da
Taça de Portugal.
O benfiquismo
está empolgado como, arrisco a dizer, nunca nos últimos 23 anos, desde que a mão de um Deus chamado
Vata incendiou a Luz e nos levou até Viena.
Nem sempre
convencendo, a equipa faz, no entanto, o que lhe compete e vai ultrapassando adversários.
O Porto está
completamente KO: não há crença ou Benquerença que lhes valha.
A derrota na
final da Taça da Liga é apenas a ferida mais recente: o Pinto já não pia e os
lacaios remeteram-se à insignificância que nunca deixarão de ter.
Tudo parece
mais perto que nunca: o campeonato, a glória, o regresso a um passado que todos
ansiamos. E pelo qual desesperamos.
E de repente
tudo desaba: em 20 dias perdemos tudo, até a dignidade que o nosso passado nos
impõe.
Quem falhou,
o que falhou, como foi possível tudo falhar e tudo perder num ápice, são as
perguntas que desde então nos atormentam: o suplício parece não ter fim, como
este inicio de época demonstra.
Não me
parece, contudo, que a solução esteja num simples virar de esquina e de página,
trocando Jesus e/ou Vieira por novos protagonistas, num filme visto vezes
demais nos últimos 20 anos.
É um facto
que o Benfica parece um manicómio em auto-gestão, mas talvez tenha chegado a
altura de todos pararmos para reflectir.
E são todos
mesmo, porque não há inocentes : sejam os que falam demais, os que calam sempre
que deviam falar mas que, ao invés, falam quando se deveriam manter recatados,
mas também os que fazem da gritaria o único argumento.
A
descaracterização do Benfica começou há muito e neste processo há muitos
culpados e poucos inocentes.
A verdadeira
dimensão da questão e do limbo em que caímos, torna-se óbvia quando ouvimos,
lemos e vemos os rostos da chamada oposição: é nisto (também) que o Benfica que
se tornou.
O Estádio da
Luz está cheio de yes man, de boys tecnocratas para quem é igual trabalhar no
Benfica, na Nestlé; de vieiristas de ocasião: tudo verdade.
Para lá
disso, porém o que nos resta ?
Rangel ?
Antunes ? Veiga ? Tavares?
Movimentos de
oposição cuja cola de cuspo é o ódio a Vieira ?
E é disto que
se faz o Benfica dos nossos dias com o drama e a urgência de termos que ganhar
o próximo jogo.
Não por
Vieira, não por Jesus: apenas pelo Benfica.
É tão somente
disto que se trata.
RC
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