O meu pai não era Benfiquista, nunca o foi.
Acho até que ganhou uma costela "anti", fruto de uma
picardia entre o amor da sua vida, o histórico Clube Oriental de Lisboa e o
Benfica: resquícios ainda dos anos 50 quando o COL quase ombreava com os
grandes, construindo equipas fortes que arrastavam multidões e incendiavam a
zona oriental de Lisboa.
Tentava, por vezes, irritar-me quando dizia que o Benfica
era naquela altura “o clube dos carroceiros”: mil e umas vezes contou a
história de um momento menos bom do Benfica, em que um desgostoso benfiquista
subiu a mítica Azinhaga dos Alfinetes fazendo-se acompanhar por um burro com um
cartaz que dizia “Só somos do Benfica em categorias inferiores”…
Sempre soube, contudo, que admirava o Benfica, a sua raiz
popular, a sua capacidade de arrastar multidões, o seu carácter de clube do
povo.
Por oposição, falava-me da matriz elitista do Sporting e
recordava a sede no Palácio Foz em que ninguém entrava sem gravata.
Muito antes de burgessos sem cultura nem memória tentarem
reescrever a história, o meu pai falou-me do clube do fascismo e explicou-me
quem tido sido Góis Mota.
Nunca foi Benfiquista, o meu pai.
Numa tarde de futebol, disse-me que gostava que o Benfica
ganhasse só para me ver feliz.
Nesse dia longínquo ensinou-me o que é ser pai e demonstrou ser, também ele e à
sua maneira, um enorme Benfiquista.
RC
Uma enorme vénia a este post
ResponderEliminarSimples e com muito sentimento. Bonito! subscrevo a VENIA
ResponderEliminarSaudações Vermelhas!!
Outros tempos! Fazia-te mais novo :-))
ResponderEliminarQue bela homenagem fazes ao teu Pai.
Abraço Glorioso