Nisto de finais perdidas (e já conto cinco) não há
melhores nem piores: cada uma tem o seu luto e de cada uma trazemos mágoas
distintas.
De todas elas, recordo um sentimento comum: quando o jogo
termina e nos apercebemos da realidade de mais uma derrota, o Benfica todo, na
sua imensidão parece cair-nos em cima.
Algo entre a dor, a impotência, a raiva, a revolta, o
desespero: que explique quem souber ou puder.
Não foi diferente em Turim, embora talvez com menos
dramatismo do que em Amesterdão: a partir dos 60 minutos senti que dificilmente
ganharíamos e chegada a lotaria dos penalties, percebi que a derrota era quase
inevitável.
Não por acaso, aliás, o apito final foi celebrado pelos
sevilhanos, enquanto o nosso topo ficou em silêncio.
Do que se sente após o jogo, nada fica, porém.
É a mágoa do momento, efémera e insignificante.
O que verdadeiramente ficará de mais uma final europeia é
a extraordinária demonstração de grandeza de um clube oriundo de um país
pequeno, pobre e periférico.
Invadimos Turim como havíamos invadido Amesterdão.
Em cada esquina um amigo, quase se poderia dizer sobre o
que encontramos em Turim: as palavras de incentivo e amizade dos adeptos do
Torino que a nós se juntaram na grande festa na Piazza Castello antes da ida
para o estádio, provaram-no.
Assim como recordarei para sempre a conversa com um septuagenário
adepto da Juventus, companheiro de viagem no autocarro que nos levou ao estádio: falou-me da
sua presença em Heysel Park naquela noite trágica da final contra o Liverpool e
como desde aí nunca mais pôs os pés num estádio de futebol; recordamos Eusébio
e o grande Benfica dos anos 60, desejou-me sorte e ao ver aquele ambiente de
festa e alegria, só disse ao despedir-se: “continuem assim!”
Tal como não esquecerei nunca aquele adepto vestido com as
nossas cores que se dirigiu a mim na estação de Milão, lamentando a injustiça
da derrota.
Estranhei o sotaque do seu inglês arranhado e
perguntei-lhe a nacionalidade: argelino, respondeu.
E lá seguiu, triste mas
orgulhoso da sua equipa. Nossa.
É tudo isto, o Benfica: mais do que vitórias, mais muitíssimo
mais do que derrotas e finais perdidas.
No futebol, não há vitórias morais e preferia, obviamente
estar aqui a falar sobre a vitória em Turim.
Cada final perdida é, porém, uma enorme aprendizagem de Benfiquismo
no mais improvável dos momentos: o da derrota definitiva.
Dói, arde.
Mas cura.
A prová-lo, amanhã, milhares de Benfiquistas e famílias farão do Jamor uma enorme festa e uma grandiosa comemoração de Benfiquismo.
Tudo isto apenas quatro dias depois de mais uma final
europeia perdida.
É esta a força, a lenda e a magia do Benfica.
RC
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