Esta bandeira tem no máximo um
metro por dois. Estou a falar do tamanho. Porque a imagem nela exibida tem uma dimensão
não mensurável de benfiquismo. Quem a fez, ou a mandou confecionar, foi guiado pela
paixão. Mostrar o Grupo Sport Lisboa do início do século passado não é um mero maneirismo revivalista,
é patentear com um orgulho muito seu, muito nosso, as camisolas berrantes do maior
clube do mundo.
O dono do pendão, quando se desloca
à Catedral, eleva-a mais alto que pode. Com vaidade. Para tal utiliza um simples tubo de
eletricista, estreito, daqueles que usávamos quando eramos putos para atirar grãos
uns aos outros, utilizando a força do sopro. O tubo é de uma inofensividade sem
paralelo. Tem uns 4 ou 5 centímetros de espessura e, no máximo, uns dois metros
de comprimento. Que bonito era o ver esvoaçar nas bancadas da Luz.
Mas não é possível. Não é possível
porque pela terceira vez consecutiva os seguranças das portas 10 e 11 do nosso
estádio – e aqui realço “nosso” – impedem que a bandeira entre com o “perigosíssimo”
tubo plástico de cinco centímetros.
São ordens! Argumentam cheios de sapiência profissional,
enquadrados orgulhosamente pela licença do MAI, que lhes permite serem ARD –
Assistentes de Recintos Desportivos, essa modernaça designação que teoricamente
lhes devia ter dado competências especificas para atuarem em tão complexo
local, mas que no fundo lhes dá apenas preparação técnica para, no limite,
garantirem sem grandes problemas a paz em qualquer cemitério de província.
Podia preguiçosamente pegar em Hannah
Arendt para justificar tão imbecil proibição. Contudo o problema é mais
prosaico. Tem a ver essencialmente com a falta de visão de quem organiza os
jogos na nossa Catedral.
Quem se desloca ao estádio da Luz, para ver o grande
Benfica, não o faz da mesma forma que vai ver um concerto, a um filme ou a uma
corrida de fórmula 1. A paixão é aqui um ingrediente central. Sem ela, maior
parte de nós ficava sentadinho no sofá, com o comando na mão, a coçar a
barriga. É mais fácil, é mais barato e até se vê melhor o jogo.
Este episódio da bandeira é
apenas um exemplo, Os sócios do Benfica são tratados em cada jogo como um incómodo.
Como uma chatice. Um ingrediente a mais que se tolera. Bandeiras só as
oficiais, esvoaçadas por funcionários pagos à medida. Cânticos só comandados pelo
speaker e pelo ecrã gigante. Até os movimentos dentro do estádio são limitados
ao máximo, como gado em qualquer processo agropecuário.
Há cerca de dois anos o Benfica fez
um jogo particular em Abu Dhabi. Na transmissão televisiva o comentador
enfatizou o facto da equipa local ter uma claque contratada. Eram uns cinquenta
indivíduos pagos para apoiar a equipa. Pareceu-me algo estranho na altura. Hoje,
pensando bem, é uma realidade que não está assim tão longe. Estão matar o meu futebol.
JL
Pior, estão a tentar matar a nossa paixão...!!!
ResponderEliminarCada vez mais apenas clientes pagantes, e cada vez menos socios de coracao. So servimos para pagar quotas, pagar bilhetes e BTV, e para adquirir o merchandising. Ate nas AG’s, os socios sao tratados como chatices que vao para ali interpelar os srs doutores e respectiva entourage. Para o clube, LFV e afins, esses sao os nossos deveres, porque o nosso benfiquismo tem de se esgotar ai.
ResponderEliminarE devo referir que novo cartao de socio ainda nada tambem.