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Neste blog por vezes escreve-se segundo a nova ortografia, outras vezes nem por isso.


sexta-feira, 11 de outubro de 2013

AS RUÍNAS DA FARMÁCIA FRANCO


Em mais de 40 anos a acompanhar futebol, já vi um pouco de tudo quando as vitórias acontecem: dedicatórias ao pai, à mãe, à mulher e aos filhos, a uma tia da província, à boazona de mini-saia que se senta atrás do banco de suplentes, aos adeptos em geral, a um grupo específico em particular, à direcção, ao presidente.
Tudo normal, portanto, descontados os normais exageros provocados pela embriaguez da vitória, qualquer que ela seja.

Acontece que os tempos que o Benfica vive, são tudo menos normais.
O clube vive bloqueado numa espécie de depressão pós-Maio, esse mesmo: o mês de todos os horrores.

No Benfica actual só estamos de acordo quanto a uma coisa: de facto, ninguém se entende.
O Benfica tornou-se um clube de gente zangada e amarga, incapaz de romper com o passado recente: todos continuamos zangados com algo, com alguém ou até com o mundo todo.

Só à luz desta estranha forma de vida que de repente tomou conta de nós, se percebem as insólitas reacções de uma franja da massa adepta às palavras de Luisão após a difícil e pouco brilhante vitória no Estoril.

Que um capitão de equipa dedique algumas palavras ao presidente, parece-me perfeitamente normal: sempre o foi e daí não veio, nunca, mal ao mundo.
Que dedique uma vitória (que, aliás, seria completamente insignificante, não fosse o contexto…) ao homem que mal ou bem tudo tem para que nada falte à equipa (condições de trabalho, salários a tempo e horas, enfim, esses pequenos pormenores…), parece-me acima de tudo um acto de solidariedade num momento difícil.

Não o entenderam assim, alguns de nós: sinais dos tempos que vivemos e de uma estranha lógica de confronto e crispação da qual só o Benfica não terá nada a ganhar.

Perante tudo isto, cada vez mais me convenço que Cosme Damião foi, de facto, um homem admirável e corajoso que se propôs a uma tarefa hercúlea e irrepetível: hoje ninguém se entenderia sequer em relação ao local da reunião, quanto mais para fundar um clube.
E se porventura se chegasse a um acordo, não me restam grandes dúvidas: da Farmácia Franco não ficaria pedra sobre pedra.


RC










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