Ao contrário de muitos, o resultado
do sorteio não me deixou nada optimista. Dizer que queremos estar na Luz em
maio, na final, quando a nível interno não conseguimos ganhar um jogo de forma categórica
é tão fantasioso que só pode ser dito a brincar. Assim, pensei que a luta seria
a três e que por isso corríamos o risco de ficar de fora.
Confesso que esperava muito mais
do Anderlecht, mas pelo que vi na Luz e pelo resultado de hoje, já vi que esperava
demais. De resto, continuo a não ter dúvidas que o Benfica vai passar dificuldades
na Grécia. Quanto aos franceses, são de outro campeonato. Sempre o soube. Por
isso o resultado é o menos mau do que se passou hoje no parc des princes.
Verdadeiramente mau é a forma
como jogámos, ou melhor, como jogamos. A primeira parte o PSG parecia o Barcelona
na Luz na época passada. Passeou de tal forma que à meia hora de jogo já só me
lembrava de Vigo. O alívio que sentimos no final diz tudo sobre a confiança que
a equipa transmite.
A equipa tem medo. Tem medo de
existir como equipa. Feridos do desastre do final da época passada, pegaram na
equipa e em vez de curativos, repouso ou tratamento, despistaram-se com a ambulância.
Vejam o exemplo dos laterais, de um
lado ou do outro, podem chamar-se Almeida, Pereira ou Cortez, mesmo Siqueira ou
Sílvio, nunca vi uma equipa a ser apanhada tanta vez em contrapé. As laterais
do Benfica são uma via rápida sem portagem. Qualquer equipazeca se apercebe disso,
quanto mais o milionário PSG.
Os jogadores jogam distantes uns
dos outros, não fazem bloco, atrapalham-se, chocam, enganam-se vezes sem conta.
Nunca parece haver soluções atacantes. Contra o Benfica as defesas contrárias
parecem ser de betão. A defender esquecem-se das marcações com uma frequência anormal,
fica meia equipa para trás no contragolpe. As bolas paradas são uma lástima.
Os três golos do PSG são um
exemplo absoluto de tudo o que disse atrás. Uma jogada simples em que meia equipa está
solta, uma segunda vaga com os nossos parados a ver jogar, um canto simples para
o sítio certo. Nada disto foi estratosférico, não houve nenhuma jogada genial. Tudo
simples.
Se me perguntarem quem simboliza
o futebol actual do Benfica, eu diria sem me engasgar Nico Gaitan. Um jogador
com uma capacidade imensa, mas com uma falta de sentido prático aflitivo. Durante
um jogo é capaz de um passe genial, um corte incrível, mas na contabilidade
final do que produziu o resultado é zero. Assim está o Benfica. Existe uma
profunda Gaitanização não só do nosso futebol mas de todo o clube.
O futebol é uma indústria feita de pessoas para pessoas. As
equipas são feitas de homens. De um grupo de homens. A construção civil é uma indústria
diferente. Quando investimos nuns bons estores temos uns bons estores, quando
equipamos uma cozinha com os melhores electrodomésticos ficamos com uma excelente
cozinha. As pessoas são diferentes, não são como o cimento, nem a areia. Mesmo
com as quantidades certas, por vezes a mistura não resulta.
Se excluirmos o futebol Luís Filipe
Vieira foi dos melhores presidentes que por cá tivemos. O problema é que, até estatutariamente,
o futebol é a principal a actividade do clube, está nos estatutos. E o que
vemos é um clube a duas velocidades. Ao enorme crescimento social e estrutural contrapõe-se
um futebol enredado num labirinto de enganos.
A equipa está cansada, os sócios estão
cansados e até Jesus está cansado. Desde o final da época passada que não
conseguimos viver uns com os outros. Somos uma família em depressão. Ou sou só
eu que que acho inaceitável estarem apenas trinta mil pessoas na Luz num jogo da
Liga dos campeões?
A renovação com Jesus não foi uma
cartada arriscada, foi uma machadada no próprio pé com toda a força e demostrou
de forma inequívoca que existe uma política de desresponsabilização no clube.
Politica que alastra por vários departamentos, que vai desde o marketing, à
comunicação, às seções e ao futebol. Politica que acaba por estragar as boas
ideias, a estratégias que até estão corretas, o investimento.
Falhar no Benfica deixou de ser problema.
Escrever no facebook sempre com erros ortográficos não é grave, faltar constantemente
água quente nas piscinas é normal, receber pilhas de reclamações pela forma
como são geridas a natação, a ginástica e as artes maciais são pormenores, a falta
de respeito pelos sócios que estão sempre presentes são minudências, os falhanços
repetidos de várias modalidades apesar do investimento, como é o caso do
andebol, nada têm ver com o responsáveis, são meros acasos.
Pois é, como afirma o presidente,
temos de olhar para floresta. Se calhar é de tanto olharmos de longe para a floresta
que não vemos as arvores a apodrecer.
Voltando ao futebol, nesta altura
da época, até nem faz muito sentido colocar em causa a continuidade do treinador.
A milionária cláusula de rescisão e o tumulto que provocaria na equipa seria
contraproducente. Vamos ver o que se salva e preparar condignamente 2014/15. E
esperar uma de duas coisas: ou que o presidente se liberte do Vieirismo ou que surjam
alternativas credíveis, muito diferentes do que tem aparecido. Porque isto de um
presidente estar a exercer há mais de uma década não faz parte do ADN do Benfica.
JL
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