Apesar de ter sido militantemente
contra a renovação do contrato com Jorge Jesus, admito que a sua continuidade assentou
numa justificação perfeitamente atendível, a estabilidade. Esta foi a bandeira
acenada por Vieira, para os cépticos e traumatizados pós-Jamor. Vieira, numa
célebre e preparada entrevista à CMTV, repetiu até á exaustão o nome do Bayern,
como se realidade do clube alemão e principalmente do futebol alemão fossem
minimamente comparáveis com a salganhada siciliana que é o nosso futebol.
Este argumento deixou logo de
fazer sentido no dealbar da época. Ainda se faziam os primeiros testes médicos
no Seixal e já o plantel parecia um albergue espanhol com elevada taxa de
entradas e saídas de hóspedes. Dezenas de jogadores foram-se apresentando ao
longo de duas semanas, havendo situações para todos os gostos, desde os que
quase não chegaram a sair do parque de estacionamento até aqueles que eram
unanimemente dispensáveis e que ainda lá andam. Os casos mais caricatos foram
os que ocuparam dias e dias de capas dos jornais, mas mal que chegaram foram
recambiados para destinos mais ou menos exóticos.
Outra marca do defeso do Benfica
foi a contratação de uma carrada de sérvios, quase todos com bastante qualidade
e, numa primeira análise, com o selo de bom negócio. De qualquer forma é Inédito
na história do clube, este ingresso num só momento de seis jogadores de uma só
nacionalidade, mesmo tendo em conta que três deles se quedaram pela equipa B.
Mas este ato gestionário não levou em conta dois aspetos importantes: a
hipotética guetização deste grupo de jogadores cuja língua é substancialmente
diferente do português e o tempo previsível de adaptação de jovens atletas
oriundos de um futebol diferente. Ambos os casos são contrários à desejada e
argumentada estabilidade.
Mas há mais. Soubemos agora que o
ambiente entre o Carraça e o Jesus estava longe de ser idílico. As mudanças na
estrutura que suportam o futebol, até por serem constantes, não contribuem em
nada para a defendida solidez do grupo de trabalho. O adiamento inesperado do
estágio na Suíça e a atabalhoada gestão do dossiê Cardoso, talvez sejam apenas
exemplos visíveis, a ponta do iceberg, do que resulta de numa estrutura deste
calibre, não existir um líder inequívoco.
Outro factor interno que muito tem
condicionado o trabalho da equipa são as estranhas e longas lesões que têm
atingindo jogadores nucleares. O tardio Siqueira, rigoroso e profícuo, revelou-se
o lateral há muito esperado, mas em cada dois jogos, quatro está indisponível.
Sílvio, uma surpresa, fez dois jogos de grande nível, ao terceiro lesionou-se. Sálvio
decisivo na pré-época e nos primeiros jogos, chamado o abre-latas, foi lesto a lesionar-se
com gravidade. Cardozo desata a marcar e a ser determinante e claro, lesiona-se
misteriosamente. Não há estabilidade que resista.
Por fim, as arbitragens. Não se entende
como é que Vieira com tantos anos ao leme do Benfica, mais outros tantos de
futebol, ainda não consegue ter uma palavra a dizer num campo tão decisivo no futebol
português. Mas mais do que não ter uma palavra a dizer é a guerra constante que
os árbitros fazem ao Benfica. Exemplos? Para além dos erros decisivos em
Alvalade e na Madeira e dos constantes penaltis espoliados ao Benfica e os que
beneficiam outros, vejam o último jogo. O Rui Costa fez uma arbitragem de uma
competência incrível, aproveitando até ao limite a má exibição da nossa equipa.
Quando o Arouca estava a começar a ficar KO, sem sequer conseguir sair da área,
foi fácil arranjar faltas contra o Benfica e dar apenas quatro minutos de
descontos. É tão fácil fazer isto contra o Benfica, mesmo na Luz.
Outro campo que a Direção de
Vieira, em dez anos de gestão, não consegue sequer algumas tréguas é com a
comunicação social. E sabemos como é importante a comunicação no sucesso de uma
equipa. Vejam com o Sporting está ser levado ao colo. Nós, entrincheirados na
Benfica TV, somos o patinho feio, o odio de estimação de escribas azuis e
verdes.
Nos terríveis programas de debate
somos representados por fracas figuras, elementos decorativos em sessões de
paulada ao SLB, enrolados à esquerda e à direita, por fanáticos manhosos. Os
nossos, em vez de defenderem o clube, a maior parte das vezes ainda arranjam
mais problemas. Isto para aqueles com boas intenções, porque outros há que só
andam por lá para ganhar a semanada e promoverem-se politicamente. O Benfica
ajuda muita gente, mesmo fora da sua Fundação.
Outro exemplo: o destaque dado ao
gesto do Enzo. Este caso entra no campo da bandidagem. Não é por certo coincidência
o facto de ser o jogador que está em melhor forma. Como o massacre mediático aquando
do ato de Jesus em defender um adepto. Exatamente no momento em que o Benfica começava
a fazer bons resultados. A força do Benfica na Comunicação Social é menos que
zero. É sinal negativo. É tão má, que o silêncio é sempre um mal menor.
Não obstante, não falei sobre as discutíveis
opções táticas do Jesus, das suas embirrações e predileções. Do inenarrável
Cortez, da falta de uma alternativa credível à dupla de centrais, da gestão do
Oblak, da falta de vontade de alguns jogadores, da falta de forma de outros,
das brincadeiras do Gaitan, dos desvairos do Maxi, dos frangos do Artur ou da
inexplicável defesa à zona nos cantos. E especialmente da estranha sensação de
que basta uma equipa adversária atacar que o Benfica acaba por sofrer um golo.
Todavia, tudo seria minimizado
com situação de estabilidade e clareza. Uma situação que nunca existiu, mas que
justificou mais um contrato milionário para Jorge Jesus.
JL
Estabilidade é uma cena que não assiste à secção de futebol do Clube.
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