Para Winston Churchill a arte da previsão consistia em antecipar o que acontecerá, para depois explicar a razão por que não aconteceu. Prever no futebol é a arte do impossível, no entanto não é possível vivê-lo com intensidade sem esse exercício constante, o da impossibilidade, seja em relação ao futuro longínquo do campeonato, seja em relação ao próximo remate à baliza.
Neste fechar de ano civil com a época a meio e o nosso Benfica a não ver ninguém quando olha na tabela classificativa para cima e para o lado, começamos a sentir aquele nervoso miudinho, derivado do desejo de estarmos todos juntos no Marquês lá para o fim da primavera, numa longa noite de domingo.
O que esperar desta equipa a partir do que fez até este momento? Eu cá espero muito e se me permitem o despojado optimismo espero estar mesmo no Marquês, de cerveja na mão e lagrima no olho. Mais do que um desejo, esta é a previsão que arrisco e que vou tentar explicar.
Para mim, no dobrar de ano, o Benfica 2012/13 está melhor que o Benfica campeão 2009/10. Não falo em dados concretos, como os golos marcados e sofridos, pontos conseguidos e sucesso nas várias competições. De qualquer forma, na época em que fomos campeões entrámos directamente na Liga Europa e fomos passando adversários até nos calhar o Liverpool. Esta época iniciámos o percurso na Liga dos Campeões - que podemos considerar um relativo insucesso - mas estamos exactamente no mesmo sítio em que estávamos há 3 anos na Liga Europa. A nível nacional as coisas equivalem-se, com a pequena, mas saborosa diferença de ainda estarmos em prova na Taça de Portugal.
O meu inesperado optimismo tem a ver essencialmente com o futebol que o Benfica pratica, com as opções do plantel e com Jorge Jesus. No que diz respeito ao primeiro ponto posso não ver o rolo compressor de 2009/10, mas vejo uma equipa segura, que estende o seu jogo a toda largura do terreno, que sabe controlar os ritmos do jogo, que entusiasma e dá gosto ver jogar.
Mas a grande vantagem em relação ao ano do título está na riqueza do plantel. Talvez seja resultado da estabilidade directiva e técnica, talvez seja a consequência logica de um trajecto de crescimento do clube, mas temos uma equipa com mais capacidade de resposta que em 2009/10. Vejamos algumas posições.
Na baliza onde agora sentimos uma confiança imensa com Artur Morais, tínhamos o Quim, titularíssimo, com Júlio Cesar e Moreira na Liga Europa e Taça de Portugal. Nas laterais começámos com o Cesar Peixoto (e Sahffer), que ainda fez 15 jogos, e Ruben Amorim, para depois evoluirmos finalmente para Fábio Coentrão e Maxi Pereira. O mesmo Maxi Pereira ainda continua no seu posto e apesar do adaptado Malgarejo não estar ainda ao nível do Coentrão, não tem comprometido e está estável no lugar desde a pré-época.
Há 3 anos tínhamos realmente uma dupla de centrais irrepreensível, Luisão e David Luís. E que dizer do mesmo Luisão ao lado do certinho Garay, com o cada vez mais constante Jardel para as eventuais falhas? Se bem me lembro o terceiro central no passado era o Sidney ou o Miguel Vítor.
Se este Matic faz esquecer o recém-chegado em 2009 Javi, é daqui para frente que se nota as grandes diferenças entre os dois planteis. Já não temos Di Maria nem Ramires, mas temos nas alas Olá John, Sálvio, Nolito, Enzo Peres… o recuperado Gaitan e ainda…o Bruno “ picanha” Cesar. No miolo não temos tido o Pablito e o Martins como jesus os tinha no seu primeiro ano, mas esperamos por eles em 2013 e temos ainda os “Andrés” (Almeida e Gomes) e estamos a experimentar com sucesso o Enzo e o Gaitan.
Com Nuno Gomes muito pouco utilizado, o titulo 2009/10 assentou fundamentalmente na inesquecível dupla Cardozo e Saviola, os dois numa forma quase irrepetível. Quase, porque esta época Cardozo apareceu com a mesma intensidade e ao lado de Lima ou Rodrigo parece estar reeditar uma sociedade de sucesso. Em resumo: mais opções, mais preparação e ainda uma equipa B disponível.
Por fim, parece-me que Jorge Jesus está melhor treinador. O fracasso por vezes tem destas coisas e o insucesso das duas épocas anteriores, tendo sido essencialmente produto de muitos factores externos ao futebol, tiveram também algum do seu dedo ou mesmo da sua mão. Não sei se é optimismo demais, mas acho mesmo que está melhor. O nível de bazófia baixou, não insiste com tanta cegueira em casos perdidos (Emersson, Roberto) e nota-se alguma destreza no banco quando mexe na equipa, destreza que lhe faltou em momentos chave nos anos anteriores.
E o que pode estragar esta previsão? Um Porto indiscutivelmente melhor que na época do título. Época em que se vivia ainda a ressaca do apito dourado. Com um Porto, apesar da mediocridade do treinador, a lutar directamente connosco, com um lote de jogadores valiosos, com a federação a jeito e com os Proenças, Soares Dias, Xistras e outros fruteiros bem aquecidos, a previsão pode muito bem sair furada. Mas eles não terão a vida fácil.
JL
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