Em tempos que já lá vão, jogador brasileiro era quase
sinónimo de brinca-na-areia.
A simpática e genérica designação dizia quase tudo:
habilidade às carradas, toques de deliciar a mais exigente das plateias,
capacidade de fintar meia equipa adversária numa cabine telefónica (quando as
havia…).
A questão e o problema era que toda aquela arte e aquele
inato virtuosismo assemelhavam-se a algumas laranjas de má raça: mesmo bem
espremidos nada davam, ou seja, nada daquela pirotecnia futebolística resultava
em proveito concreto da equipa, servindo apenas para entreter papalvos ou
mentes menos exigentes.
Era exclusivamente coisa de brasileiros, pensava-se, e nessa
santa ignorância vivi durante muitos anos.
Grandes são, porém, os desígnios do Senhor e o que fez Ele
para nossa alegria e redenção?
Pois bem, algures no meio de uma nocturna transmissão
televisiva, desencantou um brinca-na-areia argentino.
Isso mesmo: na sua infinita sabedoria, Jesus teve a visão da
quadratura do círculo e obsequiou-nos com uma espécie de Santo Graal do futebol,
descobrindo um tipo de ar permanentemente ensonado e de rebelde cabelo espetado
num futebol cuja histórica imagem de marca é feita de zaragateiros de cabelos
longos e faca na liga, com propensão para grandes cenas de pancadaria e que disputam cada lance como dançam o tango:
com génio, garra, paixão, raiva e ódio.
E é assim a nossa vida: há 3 anos que aturamos Nico Gaitán
que, dizem as almas mais crédulas e piedosas, é um daqueles jogadores que num
momento de génio pode resolver um jogo.
E é óbvio que sim: basta apenas que esteja acordado…
RC
Sem comentários:
Enviar um comentário