Ontem estiveram pouco mais do que 28 mil pessoas na Luz.
Podiam até ter sido menos, se não fossem as habituais borlas. Só para o
Regimento de Comandos foram largas centenas (milhares mesmo). Se juntarmos os novos
sócios baptizados e respectivos familiares, os pais dos miúdos das escolas e
mais algumas das habituais ofertas, dá para ter uma ideia do nível de adesão ao
jogo. Estivemos bem abaixo do número de espectadores que estiveram em Alvalade
no último jogo em casa, um clube que está nas ruas da amargura.
Estes números deviam fazer soar o alarme nos corredores da Luz.
Como é que o grande Benfica, líder do campeonato, a um sábado à noite, consegue
ser tão pouco atractivo. A aproximação do jogo com o Barcelona e a crise não
explicam tudo. As mentes brilhantes que organizam os jogos e os promovem deviam
de conseguir ir mais além.
Em primeiro lugar recordo-me de há dois ou três anos o Presidente
encher a boca com as horas impróprias em se realizavam os jogos e da necessidade
de devolver o futebol às famílias. Tudo ficou na mesma. Não há nenhuma explicação
razoável que não seja os interesses da própria Sport TV para o jogo ser às
20.30. Perante o silêncio cúmplice da Liga e Federação o futebol vai morrendo
nas bancadas.
Mas se neste caso a culpa do Benfica é por inacção, há outros
aspectos que são da inteira responsabilidade do clube. Como foi referido aqui,
a opção de acompanhar o aumento do IVA nos bilhetes foi no mínimo suicidária. Gostava
sinceramente de ter acesso aos números, mas estou em crer que a queda na
venda do redpass foi de quase 50% e esse facto reflecte-se nestes jogos. Nenhum
dos génios pagos acima do valor de mercado que deambulam nos gabinetes da Luz pensou na
opção de vender os redpass a prestações? De promoverem redpass lowcost, sem
acesso aos grandes jogos?
Mas há mais a referir. Estar no estádio é cada
vez menos agradável. Começa logo nos acessos. Compreendo que quando recebemos o
Sporting, o Porto, o Braga ou quando é um jogo internacional haja algum
controlo nos acessos. Mas justifica-se quando recebemos o Beira-mar ou o Nacional
ter de passar por três barreiras de controlo? Nas modalidades é a mesma coisa,
já repararam a quantidade de seguranças que estão num jogo de Voleibol ou
Andebol contra equipas que nem adeptos trazem? É um autêntico estado policial. Um
sócio nem se sente bem na sua própria casa. Se tivéssemos um conselho fiscal a
sério era interessante uma auditoria à relação comercial entre o Benfica e a empresa
de segurança.
Esta paranóia pelo controlo de movimentos é tão elevada que
no piso 0 das bancadas, o espaço atrás das últimas cadeiras foi pintado com uma listas
amarelas e com a frase (cito de memoria) “não é permitido permanecer neste
local”. Querem que sejamos tipo robot; chegar, pagar e sentar. Como animais amestrados.
O próprio ambiente do estádio está cheio de cacofonia. Somos permanentemente
“convidados” a gritar, a cantar, a agitar bandeiras, a levantar cachecóis. Não
há a espontaneidade que tanto nos atrai nas manifestações humanas. Até os golos
são musicados. No momento maior que é um golo do Glorioso, quando queremos extravasar
a nossa paixão, fazem perguntas sobre o apelido do marcador. Um autêntico stress.
Pior que uma chegada de ciclismo.
No cômputo geral o clube tornou-se cada vez mais fechado. Ninguém
fala directamente para os sócios. Ninguém explica nada. Na Benfica TV somos
tratados de forma infantilizada, o Jornal do Benfica é uma sombra do que já foi, a
sua distribuição é mais fraca do que a da revista do Inatel, o que se escreve
não acrescenta nada ao que já sabemos. Onde se discute os grandes desafios do
clube? Onde se apela à participação associativa? A realidade do Benfica é complexa
e o clube não devia ter medo de problematizá-la. Fala-se mais nos outros do que
em nós.
Esta atitude amorfa dos sócios devia preocupar a Direcção. Tentar
perceber porque é que ontem só estiveram 28 mil pessoas no estádio. Porque só estiveram
35 mil na apresentação contra o Real Madrid. Porque não vem mais gente aos pavilhões.
Porque é que o jogo com o Barcelona só esgotou no próprio dia?
Diz a lógica eleitoral que em ano de eleições, para quem está
no poder e quer ser reeleito, é a altura ideal para criar uma forte dinâmica no
clube, uma onda de entusiásmo. O que assistimos neste momento é o contrário disso, o que me deixa bastante
preocupado. Se a um mês das eleições é assim, o que será com um horizonte de
quatro anos pela frente?
Os pais dos miudos das escolas pagaram bilhete. Se quiser envio-lhe copia. E voce foi? Pagou?
ResponderEliminarCaro anónimo,
EliminarObrigado pelo interesse.
O post não é sobre borlas (sobre esse assunto já se escreveu anteriormente e várias vezes), mas sobre o nível de adesão ao jogo, ou melhor, aos jogos do Benfica.
O que o parágrafo em causa quer salientar é que apesar de outros interesses que levaram mais algumas centenas ou milhares de pessoas ao estádio, só lá estiveram 28 mil. Na minha opinião é muito pouco. Não chovia, não era dia de semana, não era a domingo à noite. Caso não tivessem convites todos os Comandos estariam lá na mesma? Os pais dos miúdos das escolas vão a todos os jogos independentemente do facto dos filhos atuarem ou não? Claro que não.
Por fim, numa leitura mais atenta ao post penso que se depreende que estive presente, aliás como sempre e pagando adiantado.
Subscrevo. Não reparei nas tais listas amarelas.
ResponderEliminarSe perdermos pontos em Barcelos, contra o Guimarães secalhar ainda tens menos. Porque os que raramente vão aos jogos e decidiram ir contra o Beira-Mar não voltam lá tão cedo. E se deres um passo atrás muito menos.
O número de pessoas no pavilhão é patético. O que é que custa vir umas horinhas mais cedo, gastar mais 3 euros e ver, pelo menos, o andebol? Bah!