Os olhos esbugalhados e a boca aberta foram a sua imagem
de marca.
Em campo fazia por vezes lembrar um barril em movimento.
Poderoso mas claramente cilíndrico.
Corria, enrolava-se, caía e levantava-se numa cadência
certa e adivinhada.
Sempre de olhos arregalados e de boca escancarada, entre o
pasmo e a respiração ofegante a que uns quilos aparentemente mal distribuídos
talvez não fossem alheios.
Vou ter saudades do “Zé Picanha”.
Trapalhão mas generoso, abnegado mas pouco afortunado, um
daqueles gordos simpáticos que todos conhecemos e com quem todos jogamos um dia
à bola: um daqueles imprescindíveis que, obviamente, iam parar à baliza.
Aparentemente, o nosso treinador também ele um produto
originário do futebol malandro e vivaço da rua, se preparava para castigar o
gordo: ao que parece não à baliza, onde seguramente seria menos inábil com os
pés que o desajeitado Artur, mas a defesa-esquerdo, talvez para que finalmente
tomássemos plena consciência da felicidade de ter Melgarejo.
Bruno César fez bem e pôs-se ao fresco, ou antes, ao quente
e lá rumou até à Arábia Saudita onde não lhe faltarão oportunidades para
arregalar os olhos de espanto perante temperaturas absurdas mais próprias para
beber proibidos chopinhos do que para andar a correr aos repelões atrás de uma
bola.
Vou ter saudades do “Zé Picanha”: fez golos importantes,
chegou a ser um jogador interessante e sobretudo, representava, por vezes, um
curto momento de “non sense” num futebol demasiado marcado pela tensão e pelo
excessivo rigor geométrico de movimentos.
Na sua volumetria e formato pouco ortodoxos, Bruno César
nunca regateou uma gota de suor: correu, enrolou-se, caiu, levantou-se, chutou
a torto e a direito, poucas vezes acertou: nunca deixou de tentar, ao contrário
de outros que por lá continuarão a arrastar-se, esbanjando o talento com que a
sorte os bafejou, porque a indolência e a preguiça são mais fortes.
Duvido hoje como sempre duvidei que Bruno César seja jogador para o
Benfica e para o futebol europeu, mas este cilíndrico e achatado nº 8 ficará,
seguramente, para a história do Benfica como um jogador diferente, algo desconcertante até.
Felicidades, “Zé Picanha”!
RC
BC ontem disse que foi prejudicado porque Jesus fazia um rodizio (palavra cara para ele) com as convocatórias. JJ não quis contrariar e afirmou que se tivesse sido convocado contra o moreirense jogava a lateral esquerdo.
ResponderEliminarQue dupla interessante se desfez.
Perdoem-me a comparação, mas a espaços este jogador fazia-me lembrar o grande Isaías. Boa sorte, gordo!
ResponderEliminarEle correu, caiu, levantou-se, chutou, não desistiu. Like a isto.
ResponderEliminarFoi importante na época passada. O remate acaba por ser o ponto mais forte dele. Ao contrário da maioria penso que o centro do terreno não é o sítio onde joga melhor.
Esta época o cenário estava a ser negro, ele bem que tentava e as coisas não saíam, um pouco à semelhança do Nolito.
Mas não irei criticar um atleta do Sport Lisboa e Benfica que dá tudo o que tem.
Boa sorte, picanha!