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Neste blog por vezes escreve-se segundo a nova ortografia, outras vezes nem por isso.


quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

BENFICA-PORTO: OLHANDO PARA DENTRO


Corria o ano de 1977 e Pinto da Costa era um mero aprendiz de feiticeiro.
Pedroto era então o mestre que lhe ensinava tudo sobre árbitros, coacção, guerras psicológicas, batotice.
Era o tempo dos proclamados “roubos de igreja” e em lume brando foi começado a cozinhar o ódio Norte-Sul.
Assim mesmo, porque a ordem não é arbitrária.
Garrido era o Proença de então. Curiosamente, dizia-se sportinguista, tal como Proença apregoa aos ventos o seu benfiquismo.
Sabe-se onde Garrido foi parar, veremos um dia onde Proença irá aterrar.
Tudo isto para dizer que me recordo bem de assistir ao nascimento da Besta e do que se seguiu: incompetentes uns, corruptos e vendidos outros, maus árbitros todos.
Uma dúzia bem aviada de nomes é claramente insuficiente para evocar tanta podridão, tanta batota, tanto nojo acumulado e tanta verdade desportiva atropelada e escarnecida em mais de 30 anos: o omnipresente Garrido, Mário Luís, Fortunato Azevedo, Francisco Silva, Carlos Calheiros, Donato Ramos, José Pratas, Lucilio Batista, Vítor Pereira, Olegário Benquerença, Proença, Xistra, Artur Soares Dias, Cosme Machado.
Com algum esforço de pesquisa, chegaríamos às dezenas mas o post assemelhar-se-ia a uma lista telefónica das antigas e não é esse o objectivo.
A história recente do futebol português dos últimos 30 anos é feita desta e doutra gente: canalhas, escroques, sabujos e um sortido de mafiosos que faria inveja ao bas-fond napolitano.

Tudo isto para dizer que não me parece justo que a propósito do jogo de domingo na Luz, alguns de nós tenhamos caído na tentação de tudo misturar, falando da arbitragem de João Ferreira como se de trabalhinho encomendado de um qualquer Proença ou Fortunato Azevedo se tratasse.
Nada mais errado, pelo menos na minha opinião.

É evidente que nunca deveríamos ter permitido que o Porto se vitimizasse, mas os erros de estratégia comunicacional do Benfica são tão antigos como o domínio de Pinto da Costa sobre o futebol português.
Por cada suposto erro apontado pelos lacaios de serviço em prejuízo do Porto, teríamos também nós 2 ou 3 a apontar: a forma como o maçã-podre distribuiu pancada durante todo o jogo foi sintomática; a forma como João Ferreira se apressou a cortar os últimos livres a favor do Benfica, também.
Adiante, porém.
O que aqui está em causa é que o Benfica não ganhou o jogo porque não o soube ganhar, porque uma vez mais abordou o jogo de forma completamente errada.
Porque uma vez mais entrou estranhamente bloqueado, desconcentrado, sofrendo 2 golos absolutamente imperdoáveis num jogo desta importância.
Pergunto-me se será normal que nos últimos 3 jogos na Luz contra o Porto para o campeonato, antes dos 15 minutos já estejamos a perder.
Pergunto-me se será normal que a nossa equipa apareça sempre mentalmente condicionada contra o Porto, parecendo manietada, apática.
Pergunto-me se será normal que em 3 épocas, os nossos guarda-redes tenham oferecido 3 vistosos brindes aos avançados do Porto, oferecendo avanço de bandeja.

Numa perspectiva mais lata, pergunto-me se sou só eu a achar que há qualquer coisa de errado, quando as nossas várias equipas das diferentes modalidades não conseguem definitivamente encarar o Porto de forma descomplexada: o andebol perdeu recentemente um jogo nos 2 últimos segundos, o hóquei fez o que se viu recentemente no pavilhão da Luz e a equipa de futebol perdeu de forma inglória a possibilidade de deixar o Porto para trás.
Serão eles super-heróis, seres fantásticos, dotados de super-poderes, com 3 cabeças, 8 braços ou 5 pernas?
Serão eles simplesmente melhores que nós?

Não creio. Penso antes que tudo passa por uma questão de concentração competitiva e de, uma vez por todas, encarar estes jogos da forma como eles têm que ser encarados: com seriedade, rigor, profissionalismo, disponibilidade, garra, esperteza, sagacidade e inteligência.
Alguém viu tudo isto posto em campo pela nossa equipa no domingo passado?

É pois, tempo de reflectirmos um pouco, antes de metermos tudo no mesmo saco.
Ao fazê-lo e indo pelo caminho mais fácil, estamos até a atraiçoar o esforço, o brilhantismo, a garra, a verdadeira mística com que algumas equipas nossas derrotaram a Besta em circunstâncias muito mais complicadas: uma final da Taça jogada nas Antas e ganha com um golão de Carlos Manuel contra tudo e contra todos; a tarde mágica de César Brito e companheiros num ambiente de verdadeiro terror; a última Taça de Portugal ganha contra o Porto de Mourinho; mais recentemente a vitória do basquetebol em pleno antro tripeiro.


Há um determinado paradigma que tem de mudar: o Benfica servil, medroso, tremeliquento, hesitante e trapalhão definitivamente tem que dar lugar a um Benfica forte, mandão, orgulhoso, categórico.
Um Benfica que meta o pé, a mão, o stick, a cabeça com mais decisão, garra, força, determinação: em que a nossa vontade de vencer suplante o ódio com que nos honram.

Acabará inexoravelmente nesse preciso dia o domínio da Besta e mesmo todos os Proenças desta vida se tornarão inúteis, indo directamente para o caixote de lixo da história.

4 comentários:

  1. Magnifico Post. 100% de acordo. Parabens.
    Unclesam, California, USA.

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  2. O texto resume-se a: - FALTA A MÍSTICA
    De resto temos tudo - bons treinadores, excelentes jogadores, facilidades de luxo e adeptos invejáveis em qualquer estádio do mundo.
    Como é que se restitui a Mística?
    Por intermédio de quem a tem em primeira estãncia, penso eu.

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  3. Concordo,

    Mas o Ferreira foi encomendado.

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  4. Caro Cosme,

    Percebo todo o seu estado de espírito, mas se calhar há outra perspectiva.

    Convido-o a ler o meu artigo aqui:
    http://o-guerreiro-da-luz.blogspot.pt/2013/01/epa-calma-isso-nao-e-bem-assim.html

    Aborda apenas o encontro da equipa de futebol, mas muitas das minhas tentativas de resposta a várias questões que têm sido lançadas após o encontro, podem muito bem ser transportadas e verificadas noutras modalidades.

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