Lido o livro de Luís Miguel Pereira, fica uma certeza, sorte a nossa por um punhado de homens terem dado a cara e decidido defrontar Vale e Azevedo nas urnas. Mesmo com os seus defeitos e fraquezas, divisões e equívocos, tiraram o Benfica de uma situação complicada. Ler o livro é também importante para recordarmos isso, que a massa associativa, a grande heroína desta aventura centenária chamada Benfica, teve a certa altura a sabedoria suficiente para dar a volta a uma situação que caminhava para a tragédia.
É bom ler este livro. De escrita escorreita, factual e, do que pareceu, razoavelmente rigorosa. Alguns pormenores não resistem às falhas da memória dos protagonistas (na Assembleia Geral para a construção do novo estádio, o voto foi secreto e em urna e não por braço no ar como se diz no livro) e a alguma apetência para adornar ligeiramente os actos do protagonista (a compra do Garay não foi exactamente como se descreve), mas são casos muito pontuais e compreensíveis.
Da leitura, agradável, percebe-se que ser Presidente do Benfica sai literalmente do corpo, que Luís Filipe Vieira encetou um reestruturação do clube que vai ser decisiva para o seu futuro e que estamos perante uma pessoa impar, que não se pode separar das suas idiossincrasias e que vai ficar na história do clube, pelas melhores razões.
Mas não chega, porque nestes últimos 10 anos nem tudo correu bem. Não há por exemplo referência às relações (ou o corte delas) com Pinto da Costa, que tanto influenciou a acção da presidência, nem de outros inimigos que foi coleccionando e pouco se fala de concreto dos equívocos e das opções erradas, que muito contribuíram para algum insucesso desportivo.
Claro que não se podia esperar outra coisa de um livro que tem um propósito bem definido e que não podemos criticar, mas é exagerado a narrativa estar enquadrada por um sebastianismo que já não se usa, demasiadamente focalizada na figura do homem providencial, um poço de virtudes quase infinitas. Esta visão messiânica de Luís Filipe Vieira contraria o ADN do clube e quase estraga o Livro. Mesmo assim, para quem pensa o Benfica, é de leitura obrigatória.
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