Estamos a assistir a uns Jogos Olímpicos de excelente
qualidade. Não só pelas belas imagens proporcionadas pela televisão, mas
especialmente pelos resultados e marcas dos atletas em permanente superação.
Em Portugal, como habitualmente, ficamos admirados com a nossa dificuldade em chegar perto dos lugares cimeiros. Olhamos para o medalheiro, vemos a imensidão de países já contemplados e temos dificuldade em perceber como é que um país que julga pertencer ao primeiro Mundo, não consegue sequer figurar no fim da lista.
Até ao fim dos jogos, na canoagem ou no atletismo, irá provavelmente aparecer a medalha da ordem que impedirá de fazermos uma reflexão séria e necessária sobre a política desportiva do país. Um país que transformou o futebol no desporto eucalipto, cujo governo considera que a educação física nas escolas não é nada importante e que deixa o desporto escolar, que até teve algum desenvolvimento nos últimos anos, a amargurar e preso pelo ténue fio da carolice de alguns professores.
A visão romântica do desporto, difundida até à exaustão pela comunicação social vai de encontro à forma de estar da nossa atual sociedade. Em que o “fazer” é diminuído face ao “ser” ou ao “aparecer”. Onde o trabalho não está ligado directamente ao sucesso ou vice-versa.
No desporto de alta competição, aquele que estamos a ver nestes jogos, os resultados não caiem do céu e não são fruto de um pedidos mais ou menos intensos a alguma divindade ou de inspiração momentânea fruto de génio inato. A focalização na atividade é levada ao extremo, vai de mãos dadas com a ciência e tem como suporte o trabalho. Pouca gente em Portugal está preparada para isso. Seja qual for a estrutura, pública ou associativa.
Em junho de 2011 saiu no público este artigo de Paulo Moura. Pouco foi divulgado e comentado. Em qualquer país com algum sentido crítico tinha dado água pela barba, mas no nosso Portugalzinho passou completamente despercebido.
É das mais espantosas narrações do que é o desporto de alta competição neste início de século. A história de Vanessa Fernandes é exemplar a todos os níveis e permite uma variedade de ensinamentos que abrange várias áreas. Realço estes excertos, mas o artigo é tão rico que a sua leitura integral é obrigatória.
Em Portugal, como habitualmente, ficamos admirados com a nossa dificuldade em chegar perto dos lugares cimeiros. Olhamos para o medalheiro, vemos a imensidão de países já contemplados e temos dificuldade em perceber como é que um país que julga pertencer ao primeiro Mundo, não consegue sequer figurar no fim da lista.
Até ao fim dos jogos, na canoagem ou no atletismo, irá provavelmente aparecer a medalha da ordem que impedirá de fazermos uma reflexão séria e necessária sobre a política desportiva do país. Um país que transformou o futebol no desporto eucalipto, cujo governo considera que a educação física nas escolas não é nada importante e que deixa o desporto escolar, que até teve algum desenvolvimento nos últimos anos, a amargurar e preso pelo ténue fio da carolice de alguns professores.
A visão romântica do desporto, difundida até à exaustão pela comunicação social vai de encontro à forma de estar da nossa atual sociedade. Em que o “fazer” é diminuído face ao “ser” ou ao “aparecer”. Onde o trabalho não está ligado directamente ao sucesso ou vice-versa.
No desporto de alta competição, aquele que estamos a ver nestes jogos, os resultados não caiem do céu e não são fruto de um pedidos mais ou menos intensos a alguma divindade ou de inspiração momentânea fruto de génio inato. A focalização na atividade é levada ao extremo, vai de mãos dadas com a ciência e tem como suporte o trabalho. Pouca gente em Portugal está preparada para isso. Seja qual for a estrutura, pública ou associativa.
Em junho de 2011 saiu no público este artigo de Paulo Moura. Pouco foi divulgado e comentado. Em qualquer país com algum sentido crítico tinha dado água pela barba, mas no nosso Portugalzinho passou completamente despercebido.
É das mais espantosas narrações do que é o desporto de alta competição neste início de século. A história de Vanessa Fernandes é exemplar a todos os níveis e permite uma variedade de ensinamentos que abrange várias áreas. Realço estes excertos, mas o artigo é tão rico que a sua leitura integral é obrigatória.
“A vida no CAR era obsessiva. Treinava-se desde as 6 da manhã até às 8 da
noite, todos os dias. Não havia mais nada. Tudo era organizado em função dos
treinos, dos cinco treinos diários. Todos os atletas dormiam em quartos duplos,
exceto Vanessa, que tinha um só para si. Mas era um cubículo claustrofóbico.
Depois do jantar, Vanessa ia ter com os colegas, que se reuniam no quarto de
um deles, para conversar. Mas os temas não eram muito variados. “Falávamos
sobre triatlo”, conta o triatleta Bruno Pais, que esteve internado no CAR
entre 2000 e 2007, e hoje, aos 29 anos, vive na sua própria casa, com a mulher
e a filha, perto do Centro. “O que fazíamos era comer, dormir e treinar todos
os dias. Não íamos ao cinema nem sair à noite. Por isso os nossos temas de
conversa eram os treinos, os tempos que fizemos, as reações do treinador”.
Aos fins-de-semana, alguns iam a casa, mas levavam um programa de treino
rígido para cumprir. Na alta-competição não há dias de folga. “Desde que foi
para Lisboa, ela ficou diferente”, diz Vânia, a irmã de Vanessa. “Não queria
saber de nada além daquilo. Não se interessava por nada, não queria sair à
noite, não ouvia música”.
(…)
Com estas características, em 2006, aos 21 anos, Vanessa ganhara mais
medalhas do que qualquer outra atleta da sua idade. Quando chegava a uma
prova, todos esperavam que ganhasse, e isso fez nascer nela um sentido de
responsabilidade. Não podia perder. E não perdia. Mas a pressão foi
crescendo. Tinha à sua volta os jornalistas, os patrocinadores, os
treinadores, a família, o país inteiro. Ela não podia decepcionar. Era preciso
fazer mais. Havia o Campeonato do Mundo, os Jogos Olímpicos. Os objectivos
eram cada vez mais ambiciosos, desmesurados. Era preciso ser a melhor
do mundo.
Vanessa superava-se.
Estava cada vez mais em forma, cada vez mais rápida, cada vez mais magra. E
adoeceu. “Eles precisam das medalhas, por isso não reconhecem que uma pessoa
está doente”, diz Maria Areosa. “Ela era a galinha dos ovos de ouro”.
A história de Vanessa, como a de Pedro Mantorras, deviam ser dadas a conhecer a todos os jovens atletas. A competição distanciou-se de tal forma da prática desportiva como recreação e cultura, que nem sequer são primos afastados.
Outro facto
relevante, para nós benfiquistas, é a ausência do clube em toda a narrativa.
Este facto é revelador do apoio que é dado ao propagado projeto Olímpico. Que
apoio teve a Vanessa do Benfica para além do vencimento ao fim do mês? Sei que
teve bastante da pessoa que está à frente desse projeto no clube. Que não fez mais
e melhor porque não podia, nem lhe deram condições para tal.
No fundo o projeto resume-se a uma só pessoa, que tem uma capacidade de trabalho enorme e uma paixão impar pelo Benfica e pelo desporto. Não há nenhuma equipa interdisciplinar, nem médicos, psicólogos ou outros técnicos que acompanhem permanentemente os atletas. Quando há vitórias aparecem muitos para a fotografia, quando não há, fica só a solidão de quem trabalhou.
No entanto, sejamos justos estamos longe da situação ridícula em que se colocou o presidente do Sporting quando se vangloriou pelos resultados do remo, mas este vizinho caricato, não deve impedir de sermos exigentes connosco. Não nos podemos comparar. Temos de fazer muito mais. Somos o Benfica.
No fundo o projeto resume-se a uma só pessoa, que tem uma capacidade de trabalho enorme e uma paixão impar pelo Benfica e pelo desporto. Não há nenhuma equipa interdisciplinar, nem médicos, psicólogos ou outros técnicos que acompanhem permanentemente os atletas. Quando há vitórias aparecem muitos para a fotografia, quando não há, fica só a solidão de quem trabalhou.
No entanto, sejamos justos estamos longe da situação ridícula em que se colocou o presidente do Sporting quando se vangloriou pelos resultados do remo, mas este vizinho caricato, não deve impedir de sermos exigentes connosco. Não nos podemos comparar. Temos de fazer muito mais. Somos o Benfica.
Pertinente, oportuno e excelente post.
ResponderEliminarQuanto ao artigo é absolutamente esmagador e não é por acaso que não saiu da penumbra: não há inocentes nesta história em que só Vanessa perdeu.
Quanto ao Benfica, o que fez e o que está a fazer, de facto,por Vanessa?
Onde estão todos os que apareceram há 4 anos para as inevitáveis fotos?