O maior património do Benfica não é o estádio, nem o centro de estágio, nem os valiosos jogadores. É o passado. Passado glorioso e honrado, que só nos pode orgulhar. E se temos esse direito, o do orgulho, temos igualmente o dever de preservar esse passado.
Nós, os sócios, temos de merecer o que herdámos. E a responsabilidade é ainda maior quando temos a honra de servir o clube como dirigentes, seccionistas, técnicos ou atletas.
Atestamos com facilidade que nem sempre este enquadramento está presente nos nossos dirigentes atuais, alguns deles meros funcionários que encaram o clube como uma simples entidade patronal. Muitos são os exemplos.
No meu percurso de benfiquista deparei-me a certa altura com a ideia forte de que o Benfica é mais importante do que qualquer um de nós. De todos um, diz o lema. Por essa razão as instalações do Benfica, ao contrário de outros clubes, não tinham o nome de nenhuma figura por mais emblemática que fosse.
Esta ideia foi desaparecendo, talvez com a chegada de Presidentes que promovem o culto da personalidade. Talvez esse culto germine do exterior, de um panorama futebolístico nacional que dilui o coletivo e promove o individual. Talvez seja consequência dos tempos que vivemos. O certo é que, progressivamente, foi-se alterando esta regra e até já temos uma sala de ténis de mesa que foi batizada com o nome do nosso saudoso Oliveira Ramos
Nem sempre da melhor forma, mas esta Direção tem feito um esforço importante para valorizar o nosso património. A criação do Centro de Documentação e Restauro é um bom e importante exemplo.
Mas mais importante ainda é que encetámos finalmente a construção do museu do Clube. Já o vemos nascer junto à Av. Lusíada. Longo foi o caminho deste a sala de trofeus na Rua Jardim do Regedor, passando pelo mamarracho semiconstruído pelo Vale e Azevedo, junto às bombas da Repsol, até às exposições temporárias no novo estádio.
Unilateralmente decidiu-se dar-lhe o nome do nosso mais importante Fundador. Não sei quem decidiu, mas provavelmente foi em reunião de Direção. No entanto, tenho dúvidas que estatutariamente seja suficiente. Uma decisão tão relevante deveria, a meu ver, ter passado por uma assembleia geral de sócios.
A dar o nome de alguém ao Museu, sem dúvida que era da mais elementar justiça que fosse o de Cosme Damião. Não só pelo que fez no Benfica e pelo desporto nacional, mas essencialmente pela personalidade que era.
Apesar de defender que o museu deveria chamar-se Museu do Sport Lisboa e Benfica, reconheço que esta pode ser uma forma de valorizar uma grande personalidade demasiadamente esquecida pelos portugueses. Recordo que Cosme Damião nasceu em 1885 na Travessa do Alqueidão, precisamente o nome deste humilde Blogue.
Por isso, não é a escolha que está em causa. É a forma como se escolheu. Virando as costas à tradição democrática do clube. O único clube que durante o antigo regime tinha eleições democráticas.
Ao menos que o museu sirva para fazer emergir os nossos ideais. Já que alguns deles foram-se perdendo no tempo, uns cilindrados pela modernidade, outros por decreto, como foi o caso do nosso hino.
Hino composto em 1929, por ocasião do 25º aniversário do clube, pelo grande Felix Bermudes e Alves Coelho. Um hino que transmitia a mística e a força do Sport Lisboa e Benfica. Falava de honra, sacrifício e devoção e de ideal sincero e puro. Mas falava também de glória e rogava que dignificássemos os ases que nos honraram no passado.
Um hino proibido pelo antigo regime em 1942 por pretensa conotação comunista. Aproveitemos a abertura do Museu para recuperar este pedaço de história, ainda escondido, apesar de já estarmos em democracia há quase 40 anos.
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"Todos por um!" Eis a divisa,
Do velho Clube Campeão,
Que um nobre esforço imortaliza,
Em gloriosa tradição.
Olhando altivo o seu passado,
Pode ter fé no seu futuro.
Pois conservou imaculado
Um ideal sincero e puro.
REFRÃO
Avante, avante p'lo Benfica,
Que uma aura triunfante Glorifica!
E vós, ó rapazes, com fogo sagrado,
Honrai agora os ases
Que nos honraram o passado!
Olhemos fitos essa Águia altiva,
Essa Águia heráldica e suprema,
Padrão da raça ardente e viva,
Erguendo ao alto o nosso emblema!
Com sacrifício e devoção
Com decisão serena e calma,
Dêmos-lhe o nosso coração!
Dêmos-lhe a fé, a alma!
Do velho Clube Campeão,
Que um nobre esforço imortaliza,
Em gloriosa tradição.
Olhando altivo o seu passado,
Pode ter fé no seu futuro.
Pois conservou imaculado
Um ideal sincero e puro.
REFRÃO
Avante, avante p'lo Benfica,
Que uma aura triunfante Glorifica!
E vós, ó rapazes, com fogo sagrado,
Honrai agora os ases
Que nos honraram o passado!
Olhemos fitos essa Águia altiva,
Essa Águia heráldica e suprema,
Padrão da raça ardente e viva,
Erguendo ao alto o nosso emblema!
Com sacrifício e devoção
Com decisão serena e calma,
Dêmos-lhe o nosso coração!
Dêmos-lhe a fé, a alma!
JL
Concordo com uma votação, mas também concordo com o nome.
ResponderEliminarA mim preocupa-me mais o conteúdo do museu! Vai ser o museu do Sport Lisboa e Benfica ou o museu do futebol do Sport Lisboa e Benfica?
Ps: Não sabia dessa da Travessa do Alqueidão, muito me questionava do porquê do blog se chamar isso. Obrigado pela informação!